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Delito de Opinião

Quase de certeza talvez

José Navarro de Andrade, 26.03.12

 

 

Kennedy quis inteirar-se da cadeia de consequências que o aguardava durante a crise dos mísseis de Cuba em outubro de 1962. Terá então perguntado ao seu estado-maior:

- O que acontecerá se atacarmos a base soviética em Cuba?

- Eles vão ripostar atacando uma base nossa num país terceiro, provavelmente na Turquia.

- E a seguir o que fazemos?

- É a escalada. Temos que atacar uma base deles dentro da União Soviética.

- E eles?

- Responderão com um ataque ao território dos EUA com mísseis intercontinentais.

- E depois?

- Depois, esperemos que haja o bom senso de parar.

Bem avisado, Kennedy, como se sabe, preferiu ficar na dúvida sobre o que aconteceria se não disparasse mísseis contra Cuba, do que ter dúvidas acerca do que iria suceder quando os mísseis estivessem no ar em direcção aos EUA. Chama-se a isto um dilema.

Estava agora a ver na televisão uns senhores, fatalmente economistas, cheios de explicações. Presumo que pararam para pensar, porque só têm ideias paradas. Parar como? O quê? Ou será que ainda não se percebeu que isto é como andar de bicicleta, quem pára, cai. Ou então só vê problemas (limpos, bem desenhados, já com a resposta no ovo) em vez de dilemas (insatisfatórios, conspurcados, obrigando a escolher o mal menor).