A explicação
A pergunta era a de sempre: se estamos em crise, como é que vamos fazer?
Os miúdos não são parvos. Não se deixam enganar por anúncios ou coisas dessas.
Querem saber as razões das coisas e, para isso, precisam de respostas que não sejam, passo a expressão, da treta. Não vale a pena mentir.
Vivemos em democracia há menos tempo do que vivemos num regime totalitário. A democracia, sendo o melhor dos regimes como dizia o outro (que também foi jornalista e levou pancada, há muitos anos), é hoje um conceito altamente questionável. Quem nos governa são os mercados, não são os 200 mil que podem ser eleitos por estar integrados numa estrutura partidária ou os outros - poucos - que se dizem independentes mas que encaixam nas mesmas estruturas. Basta isto para que se perceba que a democracia é mesmo muito relativa. Adiante, para não meter na cabeça dos miúdos coisas que podem levar a mais perguntas, a ideia foi a de dizer que temos de fazer o melhor possível sem abdicar dos nossos sonhos, já que estão na idade para isso. E que ninguém sabe o que é o futuro, logo podem escolher a área que quiserem, o curso que entenderem, ou não. Ir para a universidade não é uma obrigação, não está na lei como um dever. Há outras possibilidades. Dirão que este é um discurso que as mães não devem ter. Quero lá saber. Sei que mais de 50 mil licenciados saem directos para o desemprego ou - pior - para um call center qualquer a ganhar o ordenado mínimo. Por isto e outras coisas, se um dos meus filhos quiser ser carpinteiro, pois faça o favor. Ou palhaço, ou canalizador ou outra coisa qualquer incluíndo limpa-chaminês ou limpa aquários. Nenhum disse uma palavra. Até ao momento em que o mais pequeno quis saber se eu ficaria triste se ele trouxer para casa, agora no fim do período lectivo, uma negativa a ginástica por não saber fazer o pino, a roda ou a cambalhota para a frente ou para trás com saída perfeita, sem mãos. Sorri. O outro disse: esquece isso, meu, nem no Governo ou na Troika há um tipo que saiba fazer isso e não lêem o que tu lês. Boa resposta? Belíssima. Venha a negativa que a malta fará dela uma medida de riso em vez de austeridade.