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Delito de Opinião

Electrocutado

Rui Rocha, 13.03.12

O governo sofre a primeira baixa exactamente no ponto onde não podia quebrar. A governação de Passos Coelho, até ao momento, teve como resultado um ataque feroz dirigido à classe média e uma diminuição significativa das garantias de protecção social. Este empobrecimento objectivo da generalidade da população constituiu, alias, uma das promessas do Primeiro-Ministro. Honra lhe seja feita, tem cumprido. E tem-no feito, afirmou-o também, não porque o memorando da troika o imponha, mas porque esse é o caminho inevitável e necessário para a cura. A tudo isto os portugueses responderam com natural descontentamento mas, acima de tudo, com sentido de responsabilidade. Todavia, é evidente que as reformas estruturais e essenciais de Portugal são de outra natureza. A governação socialista deixou o país prisioneiro de interesses corporativos que se incrustaram em diversos sectores económicos. E que comprometem a competitividade e o desenvolvimento. O teste definitivo à governação de Passos Coelho está, portanto, na capacidade de os afrontar e de libertar a economia de tal baraço. O Secretário de Estado Henrique Gomes foi, até hoje, das poucas vozes que no governo tiveram a coragem de enfrentar a EDP, uma das grandes vacas sagradas do regime. Ousou investir contra uma cerca electrificada. Morreu politicamente. Electrocutado. A sua saída, independentemente dos motivos que a determinaram, tem um valor simbólico. O da cedência do poder executivo democrático perante o poder de facto corporativo. Passos Coelho, entretanto, deve perceber que não é moralmente aceitável continuar a exigir sacrifícios ao cidadão comum enquanto promove ou permite a perpetuação de interesses que colocam em causa os fundamentos do próprio Estado.

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