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Delito de Opinião

Aplausos calorosos aos torcionários

Pedro Correia, 07.03.12

 

De Homs, cidade-mártir, continuam a chegar dramáticos testemunhos sobre a acção homicida dos esbirros de Bachar el-Assad, o ditador sírio que não hesita em utilizar os mais repugnantes meios para atingir o seu fim: perpetuar-se no poder até à morte, como sucedeu ao pai, Hafez Assad. O filho limita-se a seguir o lamentável exemplo paterno: Hafez (1930-2000) foi o caudillo da Síria durante três décadas e autor moral do massacre de Hama, em 1982, justamente lembrado no portal da Amnistia Internacional. Há 30 anos, tal como acontece hoje, o regime esmagava todos quantos reclamavam liberdade, direitos humanos e justiça social. Nem nos hospitais os sírios escapam à tortura. E as crianças sofrem tantas represálias como os adultos, segundo denunciam prestigiadas organizações não-governamentais, como o Observatório de Direitos Humanos. Situações que podem ser classificadas como crimes contra a Humanidade enquanto os cadáveres se amontoam: segundo estimativas das Nações Unidas, já terão sido liquidadas cerca de 7500 pessoas em 11 meses de contestação aberta à tirania.

«Um massacre é um massacre. Seja onde for, independentemente de quem o pratique, qualquer que seja a justificação invocada, deve ser condenado por todos os que conservam um mínimo de empatia por outro ser humano», como justamente escreve Pedro Viana no Vias de Facto.«Os que encaram os seres humanos como peões de um jogo de guerra, moeda de troca ou simples matéria-prima a utilizar numa espécie de "lego" social e político, alistam-se e mobilizam-se ao serviço da desigualdade e da reprodução da opressão», assinala também - com uma frase certeira - Miguel Serras Pereira no mesmo blogue. «Matar um povo barricado numa cidade é genocídio, e qualquer insurreição popular democrática contra uma ditadura – independentemente das direcções políticas que estão à frente dessa insurreição – deve contar com o nosso apoio», sublinha por sua vez Raquel Varela no 5 Dias.

Todos de acordo, ao menos nisto? Claro que não. A ditadura síria encontra fervorosos apoiantes na extrema-esquerda blogosférica, que usa e abusa da palavra revolução mas entra imediatamente em êxtase cada vez que os torcionários disparam o gatilho. No próprio 5 Dias encontramos pessoas como o Renato Teixeira, que põe umas aspas medrosas na palavra ditadura para qualificar a Síria, demonstrando respeitinho pelos pides de Damasco. Ou o Bruno Carvalho, que celebra sem pudor as atrocidades cometidas em Homs pelos animais fardados às ordens de Assad.

Regresso às lúcidas palavras de Raquel Varela: «Não é esmagando um povo que se reforça a sua capacidade de resistência ao imperialismo.» Nada mais certo. Palavras que recomendaria ao Bruno e ao Renato se eles soubessem ler algo mais do que as folhas de propaganda da criminosa dinastia que há mais de 40 anos oprime o povo sírio.

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