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Delito de Opinião

Pontos nos is (13)

João Carvalho, 07.03.12

ÓSCAR

I

Sábado, 3 de Março. O Diário de Notícias online traz um texto do seu actual provedor do leitor, Óscar Mascarenhas. É evidente que se trata de um artigo de opinião, mas com o peso acrescido de ser escrito por quem devia ter sempre presente a ética do jornalismo, muito especialmente o que respeita à identificação das fontes de informação que o autor põe em causa.

Óscar Mascarenhas reporta-se a uma notícia do DN de 21 de Fevereiro («terça-feira de Carnaval», lembra ele de modo completamente irrelevante para o efeito), que fez manchete no jornal e contra a qual se insurge. «Trabalhadores dos transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro» era o título da notícia, que surgia a propósito da greve dos transportes, escrita e assinada pelo jornalista Francisco Almeida Leite.

II

O provedor começa então o seu artigo por dizer que foi primeiramente alertado para o teor da notícia por «um leitor "meio ensonado"» e, pelos vistos, mal disposto. «O leitor, AJF, que me escrevera "às 5 e 43" da manhã, declarava-se "incrédulo"» — diz Óscar Mascarenhas.

Além do suposto leitor AJF que a notícia, «logo por azar, tirou da modorra (...) às 5 e 43 da manhã», o provedor é inspirado ainda por um tal MH e por um MG e sente-se, por isso, obrigado a tentar explicar que os leitores citados (!) se identificaram perante ele «de modo suficiente, não podendo ser considerados anónimos».

Claro que podem e devem ser considerados anónimos, porque é assim que eles caem no artigo do provedor como mosca na sopa — artigo em que ele tanto lamenta a falta de fontes de Francisco Almeida Leite.

III

Sugiro que leiam aqui o insustentável artigo completo de Óscar Mascarenhas, que inclui a posição correcta tomada por Francisco Almeida Leite (que também invoca o inegável interesse público da matéria), a qual é ainda sustentada pelo director de serviço desse dia, o subdirector do DN Nuno Saraiva.

O que Óscar Mascarenhas no fundo contesta é outra coisa muito básica que apenas confirma a sua conhecida e longa familiaridade com uma certa esquerda enquistada, bacoca e passadista, protesto esse que se resume ao facto de o jornalista se ter baseado declaradamente num documento interno do Governo.

O provedor chama-lhe propaganda e diz que faltou procurar o contraditório nos sindicatos que ele, está bom de ver, gostaria que tivessem sido abordados. Reparem só como o título do provedor, com despropositada ironia e mau gosto, deixa precisamente este rabo de fora: «Contraditório porquê se a fonte da notícia foi alguém do Governo?» é esclarecedor o bastante.

Com isto, se houvesse um prémio destinado ao “Melhor Provedor das Fontes Anónimas e Ensonadas", Mascarenhas venceria sem dificuldade. Mas a verdade é que ele já tem o Óscar. E eu, perante o caso, recordo-me de repente da ex-provedora dos leitores do DN Estrela Serrano e palpita-me que corro o risco de até começar a achar que fui injusto quando não gostava dela nessa altura.

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