Não há coincidências (16)
Na história da música ligeira, dificilmente uma canção terá levantado tanta polémica e acusações de plágio quanto Viva La Vida, da famosa banda inglesa Coldplay. A canção foi a estrela maior do quarto álbum da banda, Viva la Vida or Death and All His Friends, gravado entre 2006 e 2009 e considerado um turning point da banda depois dos três primeiros álbuns que, segundo o vocalista Chris Martin, podem ser considerados como uma trilogia. O longo tempo de gestação do álbum ficou a dever-se a várias interrupções e pausas de gravação, entre as quais uma tournée pela América Latina no início de 2007, com espectáculos ao vivo no Chile, Argentina, Brasil e México. A canção Viva La Vida contém referências históricas e religiosas (influências hispânicas que a banda atribui a essa passagem pela América Latina e por Espanha), e foi apresentada no episódio "Million Dollar Maybe" da série Os Simpsons. Lançada em 12 de junho de 2008 (foi o segundo single do álbum), teve desde logo um assinalável sucesso crítico e comercial, atingindo o topo da UK Singles Chart e da Billboard Hot 100 e tornando-se o primeiro single da banda a atingir o primeiro lugar no Reino Unido e nos Estados Unidos. A canção venceu o prémio de Canção do Ano no 51º Grammy Awards em 2009. É a sexta canção com mais downloads digitais pagos, atingindo a marca de 4 milhões. O álbum vendeu 300.000 cópias em três dias.
Viva La Vida - Coldplay (2008)
Mas o estado de graça de Viva La Vida em breve se desvaneceu. A primeira acusação de plágio, objecto de uma acção em tribunal, partiu de uma banda americana pouco conhecida chamada Creaky Boards, que reclamava para si a autoria da música. Ironicamente, a canção dos Creaky Boards tinha o nome de The Songs I Didn’t Write. Andrew Hoepfner, o vocalista, alegou que Chris Martin tinha ouvido a música num show ao vivo em Nova Iorque, em Outubro de 2007. A banda chegou a lançar na net um vídeo-clip no qual compara secções de ambas as canções. Os Coldplay negaram acusação, através do porta voz da banda, Murray Chambers, que afirmou categoricamente que Chris Martin estava a trabalhar no AIR Studios, em Londres, na data alegada. Afirmou ainda que uma versão demo de Viva la Vida tinha sido gravada em Março de 2007, meses antes da actuação dos Creaky Boards. Conscientes de que seria uma luta em tribunal de David contra Golias, os Creaky Boards acabaram por retirar a acusação, beneficiando da publicidade que o assunto gerou. Como saída airosa, sugeriram que ambas as canções poderiam ter sido inspiradas pelo videogame The Legend of Zelda.
The Songs I Didn’t Write (2007)- Creaky Boards
Mas a sombra do plágio não estava afastada para Viva La Vida. Em Dezembro de 2008, arrumado o assunto com os Creaky Boards, foi o guitarrista Joe Satriani quem requereu para si a autoria da música com uma ação de processo de violação de direitos autoriais contra os Coldplay, em Los Angeles. O processo alegava que a canção incorpora "substanciais partes originais" da faixa instrumental If I Could Fly, do seu álbum de 2004 Is There Love in Space?. Uma vez mais a banda negou vigorosamente a acusação, alegando que as semelhanças eram "mera coincidência". Em 14 de Setembro de 2009, o caso foi julgado pelo California Central District Court, acabando num acordo extra-judicial entre as partes.
If I could fly - Joe Satriani (2004)
O pesadelo não tinha ainda acabado. Em Maio de 2009, Yusuf Islam (aka Cat Stevens) declarou que Viva La Vida era muito semelhante à sua canção Foreigner Suite, uma longa composição com a duração de 18 minutos incluída no álbum homónimo de 1973. Nas próprias palavras de Cat Stevens "Foi o meu filho quem me chamou a atenção para o facto, perguntando-me se eu não achava que a melodia soava como Foreigner Suite. E eu achei que ele tinha razão". O músico chegou a ponderar seguir os passos de Satriani, mas a sua habitual bonomia acabou por concluir, após mais uma categórica negação dos Coldplay, que a colagem não tinha sido intencional. "Eles copiaram a minha música, mas não acho que eles tenham feito isso de propósito" disse mais tarde, acrescentando "Eu não quero que eles pensem que eu estou zangado. Gostava de sentar-me e tomar com eles uma xícara de chá, para que eles saibam que está tudo bem."