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Delito de Opinião

Não há coincidências (15) - 2ª série

Ana Vidal, 26.02.12

A partir de hoje, aos Domingos volto a armar-me em detective musical, de lupa no ouvido, para dar-lhe conta de plágios, batotas, "inspirações" e estranhas coincidências musicais. E começo com uma descoberta recente, um tanto decepcionante por envolver dois músicos de quem gosto muito e respeito: Eric Clapton e Mark Knopfler. Mais do que decepcionante, foi uma descoberta que me deixou boquiaberta. É que não acredito que tenha sido eu a única pessoa no mundo a ver o gato escondido, tão de fora deixou ele o rabo, mas a verdade é que não encontrei nada sobre o assunto nas pesquisas que fiz. Enfim, pensando bem, também eu já ouvi estas duas melodias tantas e tantas vezes e só agora se fez luz...

 

Em 1986, Eric Clapton apresentava pela primeira vez no Festival de Jazz de Montreux a canção Holy Mother, que viria a incluir nesse mesmo ano no álbum August, um estrondoso êxito de vendas cuja produção esteve a cargo de Tom Dowd e Phil Collins. Este último participou também como vocalista e percussionista, a sua maior especialidade. No booklet do álbum, os créditos da canção estão bem explícitos: Stephen Bishop/Clapton. É um tema tocante, uma prece sofrida de alguém que se sente perdido e pede a protecção divina. Tendo em conta a própria história de vida de Eric Clapton, a letra da canção impressiona e comove ainda mais. Como quase todas as canções de August, Holy Mother foi um sucesso e ficou na discografia de Eric Clapton como um tema-chave repetido em inúmeros concertos, inclusive com Luciano Pavarotti nos celebérrimos "Pavarotti and Friends". Aqui, ao vivo em Londres, 1996:

 

 

Em 1987, Mark Knopfler foi convidado a compor uma banda sonora original para o filme The Princess Bride, um conto de fadas romântico/cómico com argumento de William Goldman. Segundo o realizador do filme, Rob Reiner, entregou a tarefa a Mark Knopfler porque só ele seria capaz de entender profundamente o espírito da história e criar uma banda sonora que lhe fizesse inteira justiça. E tinha razão, porque o filme foi um sucesso e ficou a devê-lo, em boa parte, ao fundo musical. De tal forma que o tema principal, Storybook Love, esteve nomeado nesse ano para o óscar da Academia na categoria de "melhor canção original". No filme, a canção é interpretada por Willy DeVille, que aparece creditado como co-autor, juntamente com Knopfler. Pode ouvi-la aqui em baixo (em versão instrumental), a partir do 1.05'. Vai perceber, espero, porque fiquei tão espantada ao ouvi-la um destes dias como se fosse a primeira vez. Quando reconheci nela a bela melodia de Holy Mother, que Eric Clapton compôs apenas um ano antes da ultra-mediática banda sonora do seu amigo Mark Knopfler. Porque será ele que nunca se queixou da colagem flagrante, impossível de ter escapado ao apuradíssimo ouvido de músico? Por outro lado, será que Mark Knopfler alguma vez se apercebeu do que tinha feito? Se a resposta for "não", o plágio foi involuntário. Mas custa muito a crer... e não deixa de sê-lo.

 

Entende agora porque me perturbou a descoberta? Pois bem, como golpe de misericórdia deixo-lhe outra ainda, que agrava a pena de Mark Knopfler ao acrescentar um segundo plágio à mesmíssima banda sonora. Ouça com atenção o início do video. Logo nos primeiros acordes de Once Upon a Time, não reconhece outra música, bem mais antiga? Ouça outra vez. A mim não escapou a semelhança, talvez porque Peer Gynt é uma das minhas peças musicais favoritas. Neste caso, só Edvard Grieg poderia ter-se queixado, mas já cá não estava para fazê-lo. Ouça aqui em baixo a maravilha que é Morning (Suite no 1, Op. 46: no 1, Prelude) e diga lá se não tenho razão.

2 comentários

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    Ana Vidal 27.02.2012

    Obrigada, João! :-)
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