O Metro do nosso descontentamento
Por muitas razões, das quais não vou agora falar, sou uma defensora da utilização dos transportes públicos. Apesar de gostar muito de andar a pé em Lisboa, utilizo, entre outros, o metro, com alguma frequência. É inegável o esforço que tem sido feito para melhorar a qualidade da sua utilização. A rede tem sido aumentada, as estações renovadas e, à excepção de algumas alturas do dia, as viagens não são desconfortáveis.
No entanto, nos últimos dias...
Provavelmente por contenção de custos, a circulação na linha verde faz-se agora (ainda não percebi se durante todo o dia, se apenas a algumas horas), apenas com três carruagens. Algumas das consequências deste facto são:
- as correrias nas plataformas de quem está desatento aos avisos ou simplesmente não consegue ler à distância em que o painel informativo se encontra. Esta situação é agravada no caso de pessoas idosas;
- a rápida saturação do espaço nas carruagens (hoje alguns casais estrangeiros, com crianças e carrinhos, não conseguiram entrar numa das estações, não apenas por não haver lugares sentados mas porque não conseguiam mesmo entrar - e isto à hora de almoço);
- a acumulação com o descontentamento já existente, face ao aumento do preço das viagens e a situações, que espero pontuais, mas que acontecem cada vez mais, como o não funcionamento de elevadores e escadas rolantes (pelo menos na estação do Cais do Sodré);
- o stress de uma viagem em que, não bastando a situação de irmos colados a vários desconhecidos, ainda temos que ouvir todas as lamentações e vociferações de quem se sente tão mal servido.
Sabemos que a aplicação de medidas de racionalização e emagrecimento é um imperativo inevitável mas impõe-se que ela seja feita criteriosamente para não se retroceder demasiado no tempo e para que não se afastem as pessoas dos transportes públicos, o que é contrário a tudo o que se deseja para uma cidade moderna.
Não sei se esta medida está em vigor ou se se encontra prevista para outras linhas. Sei, no entanto, que os investimentos que têm sido feitos na melhoria das estações, no seu alargamento, a oferta de actividades culturais, não fazem qualquer sentido se as carruagens não servirem para transportar os utentes com um mínimo de qualidade. E transformar o dia inteiro numa hora de ponta contínua diminui-a substancialmente.
Mesmo adoptando apenas um ponto de vista economicista, estas medidas não servirão certamente para fortalecer a empresa. Muito provavelmente diminuirão os custos mas, a médio e longo prazo, diminuirão também os ganhos.
Por enquanto nós já estamos a perder.