Phi Phi
Situadas na Tailândia, as ilhas Phi Phi (lê-se Pipi) são de uma beleza natural irresistível, dentro do possível relativamente imune ao impacto humano. Até desembarcar mantinha uma impressão inconfessável de alguma desilusão com as praias supostamente paradisíacas que já tinha visto. Não me satisfaziam completamente e culpava a minha bruteza por continuar a achar que, excepção feita à translucidez e à temperatura da água, em pouco (ou nada) ficavam à frente do “nosso” Algarve e, sobretudo, do Alentejo. As ilhas Phi Phi fizeram-me perder a vergonha, pois justificam plenamente o epíteto. Trata-se de um pequeno arquipélago, ao largo da costa tailandesa, sendo que, das seis ilhas, apenas uma é habitada permanentemente. Dessa, destaca-se um pequeno istmo central de areia (devastado pelo Tsunami de 2004, mas já praticamente reconstruido graças ao trabalho incansável da HI Phi Phi), ladeado por dois altos blocos cobertos de montanhas e vegetação. Uma diversidade harmoniosa. De resto diversa será porventura o adjectivo que caracteriza melhor o local, em ambos os sentidos da palavra.
Começando logo pela variedade de espécies que habitam os mares, cuja água, quase transparente (excepto no porto, inevitavelmente sobrepovoado de barcos), permite observar nitidamente o fundo a 3-4 metros de distância. É, assim, excelente para a observação sub-aquática, mesmo para a pessoa mais inexperiente. A calma vivida debaixo de água – a quase ausência de som, aliada ao movimento vagaroso dos peixes – faz da experiência, quanto a mim, superior a qualquer observação sobre-aquática. Deve ser do contraste que desperta a nós, seres de terra; fossem os homens seres aquáticos e certamente sucederia o contrário.
Em terra, o ambiente nas Phi Phi está longe de coincidir com o retrato de uma ilha (quase) deserta, não obstante mantém alguns traços que a diferenciam dos seus (supostos) pares. Porventura o principal destes é o facto de não se vislumbrarem carros, ficando o transporte terrestre praticamente restrito aos membros inferiores e às bicicletas e o marítimo a barcos-táxis (long-tail boats). Isto contrasta com a realidade na irmã mais velha, Phuket, cujas praias são igualmente estéticas, mas cujas ruas estão imersas na poluição atmosférica, auditiva e visual de um trânsito incessante.
Outra diferença das Phi Phi está no facto de o caudal de turistas ainda não ter atingido o pico, a que se junta uma população, mesmo que (na sua maioria) de passagem, diferente da que normalmente invade estas paragens. Descontando os inúmeros barcos turísticos que se deslocam dos territórios vizinhos durante a manhã (regressando a seguir ao almoço), a população turística das Phi Phi é na sua maioria composta por jovens backpackers, no global civilizados e interessados em preservar em alguma medida a ilha (muitos vêm pelo mergulho ou pelo montanhismo). De novo, uma realidade ligeiramente diferente do que se observa em destinos mais mainstream, sobretudo em Patong (uma praia de Phuket), onde a beleza da praia contrasta com o mau aspecto das ruas, que se apinham (principalmente à noite) do típico turista ocidental bêbedo, envergando uma t-shirt com uma qualquer piadola sexual básica, confiante de assim ser facilmente bem-sucedido. Se não conseguir, tem à sua volta várias prostitutas asiáticas, atraídas por uma procura consistente.
Esta população peculiar das Phi Phi produz, assim, um ambiente distinto, mais agradável, com a noite a trazer à ribalta um entrançado de ruelas de areia, alternando restaurantes e lojas. Os primeiros são, na sua maioria, relativamente básicos (comida local, pizas e massas, adaptadas a um orçamento backpacker), excepção feita ao peixe e marisco fresquíssimos e aos restaurantes situados literalmente à beira do mar. Por seu lado, as lojas revelam uma graça, também ela inesperada, pondo (quase) de lado os irritantes recuerdos cliché, e substituindo-os por produtos mais originais, alguns deles locais.
Em suma, um destino que recomendo. O difícil, neste caso, é mesmo (só) chegar.