Passos seguro em Gouveia
Um dos erros mais frequentes e mais graves de qualquer político é a perda de contacto com a realidade. O governo de Passos Coelho foi dando alguns sinais preocupantes a esse nível. O discurso da emigração ou da pieguice foram manifestações que indiciaram algum isolamento e falta, pelo menos, de sensibilidade perante as situações aflitivas que muitos portugueses enfrentam. Por isso, a imagem de um primeiro-ministro que não teme as manifestações de descontentamento, que não ilude o contacto pessoal com os manifestantes e que, apesar da hostilidade latente, insiste em falar com eles, ouve-os e procura transmitir-lhes a sua visão das dificuldades e dos caminhos constitui uma boa notícia. Claro que não faltarão aqueles que procurarão salientar que a atitude de Passos Coelho não é mais do que uma operação de marketing e que este apenas aproveitou uma oportunidade para promover a sua imagem pessoal. Talvez seja assim. Mas, o certo é que outros tiveram essa possibilidade e não tiveram a dose de coragem pessoal e de humildade necessária para estar no meio de manifestações desse tipo. E, já agora, fosse qual fosse a motivação, o certo é que pareceu um acto genuíno que ficou muito bem ao primeiro-ministro.