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Delito de Opinião

Desacordo ortográfico

Pedro Correia, 17.02.12

Já não é só o Centro Cultural de Belém -- instituição de direito privado, sem tutela pública. Ou Serralves. Ou a Casa da Música. Já não são só a generalidade dos jornais que o ignoram -- Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Público, i, Diário Económico e Jornal de Negócios, além da revista Sábado.

Já não só os angolanos que se demarcam, ou os moçambicanos. Ou até os macaenses. Sem excluir os próprios brasileiros.

Por cá também já se perdeu de vez o respeitinho pelo Acordo Ortográfico. Todos os dias surge a confirmação de que não existe o consenso social mínimo em torno deste assunto.

São os principais colunistas e opinadores da imprensa portuguesa. Pessoas como Anselmo Borges, António-Pedro Vasconcelos, Baptista-Bastos, Frei Bento Domingues, Eduardo Dâmaso, Helena Garrido, Inês Pedrosa, Jaime Nogueira Pinto, João Miguel Tavares, João Paulo Guerra, João Pereira Coutinho, Joel Neto, José Cutileiro, José Pacheco Pereira, Luís Filipe Borges, Manuel António Pina, Manuel S. Fonseca, Maria Filomena Mónica, Miguel Esteves Cardoso, Miguel Sousa Tavares, Nuno Rogeiro, Pedro Lomba, Pedro Mexia, Pedro Santos Guerreiro, Ricardo Araújo Pereira, Vasco Pulido Valente e Vicente Jorge Silva.

É o ex-líder socialista, Francisco Assis, que se pronuncia sem complexos contra este «notório empobrecimento da língua portuguesa».

É o encenador Ricardo Pais, sem papas na língua.

É José Gil, um dos mais prestigiados pensadores portugueses, a classificá-lo, com toda a propriedade, de «néscio e grosseiro».

É a Faculdade de Letras de Lisboa que recusa igualmente impor o acordo. Que só gera desacordo.

Um acordo que pretende fixar norma contra a etimologia, ao contrário do que sucede com a esmagadora maioria das línguas cultas. Um acordo que pretende unificar a ortografia, tornando-a afinal ainda mais díspar e confusa. Um acordo que pretende congregar mas que só divide. Um acordo que está condenado a tornar-se letra morta -- no todo ou em parte. Depende apenas de cada um de nós.

7 comentários

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    Pedro Correia 17.02.2012

    FaCtualmente.
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    RuiMCB 17.02.2012

    Ó Pedro mas será que a alergia ao acordo o impediu sequer de o conhecer ao ponto de não saber que de facto, o facto não mudou?
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    Pedro Correia 17.02.2012

    Quem lhe disse que não mudou, Rui? Todos os dias vejo (leio) acordistas militantes, mais papistas do que o Papa, escreverem 'fato' (em vez de facto) e 'contato' (em vez de contacto), entre outros dislates. Já para não falar noutros vocábulos, como 'recepção' ou 'percepção', que sempre se escreveram assim no Brasil e agora passam a ter uma grafia diferente em Portugal. Em vez de unificar, o 'acordo'... desuniu.
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    RuiMCB 17.02.2012

    O acordo diz-me que não mudou, é quem me diz. E é do acordo que estou a falar, ele e apenas ela me agrada e não o clero neófito que quer ir desde já mais além. Em Portugal é facto, no Brasil é fato. Tal como o contacto. Erradamente o Portal do Cidadão caiu nessa esparrela, depois de avisado emendou a mão. Eu para quem é mais papista que o papa ou quer ir além da troika tenho pouca paciência devo confessar :-) Cá para mim é gente na reinação só para arreliar quem se abespinha com pouco. Ou então, sofrem tão somente da natural ignorância sobre este novo dever.
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    Bic Laranja 18.02.2012

    Pois se é facto cá e fato lá onde vê vossemecê o acordo que tanto lhe agrada?
    Abençoada...
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    c 19.02.2012

    É interessante como os acordistas parecem ter parado em 1973, como se a ortografia fosse um assunto luso-brasileiro, decidida por meia dúzia!
    A ausência de Angola e Moçambique nestas discussões, como se não contassem, é algo de totalmente incompreensível, a denunciar uma arrogância e prepotência intoleráveis!

    Até os que acusam Portugal de «isolacionismo» (sic) esquecem que em Angola e Moçambique e em todos os países africanos!, se usa a ortografia portuguesa o que faria do Brasil e nunca de Portugal o único «isolacionista» ortográfico... Mas a realidade tem pouco a ver com esta questão.
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