Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Sinto, logo insisto?!

Laura Ramos, 14.02.12


Desde que oficializaram o amor romântico a sociedade desintegrou-se...

Mas lembra a alguém fazer depender a propagação da raça (e a sua sólida agregação num grupo estável) de fenómenos tão caprichosos como os efeitos do estrogénio e da testosterona? E dos célebres neurotransmissores de nome vampiresco como a norepinefrina (que nos excita), a serotonina (que nos descontrola), a dopamina (que nos faz sentir felizes) e uma tal de feniletilamina, que comanda todas as anteriores e que foi, aliás, maldosamente injectada numa droga irresponsavelmente legalizada no mercado, de seu nome chocolate?
Amanhem-se com esta, não há volta a dar! Na era da racionalidade, nós, homens e mulheres, não escolhemos com a cabeça.
A coisa não tem que saber, não há como lutar: é pura química. Essa coisa maravilhosa que é o coração acelerado, as mãos suadas, a respiração difícil, as borboletas no estômago e o cérebro turvado, totalmente incapaz de discernir com clareza (quando caimos na fase do desejo). E que depois evolui para a etapa seguinte, a da atracção fatal, que não nos deixa dormir, nem comer, nem pensar em rigorosamente mais nada, olhos de carneiro mal morto e sorriso aparvalhado. Para, finalmente, e se não encalharmos na fase anterior (como encalham os típicos infiéis viciados nestes turbilhões voláteis e avassaladores, assim condenados ao terrível e compreensível martírio da cama incerta), acabarmos na ligação: o tempo do amor sóbrio, dos laços e do pleno reinado da oxitocina (a hormona do carinho) e da vasopressina (a hormona da fidelidade...)
Está tudo estudado, meus amigos. As próprias mágicas e poderosas endorfinas só foram descobertas em 1975, sabiam? Eu bem desconfiava que algo de novo e profundo me acontecera depois do vinte cinco do quatro de setenta e quatro... Eram elas, as endorfinas, escusavam de me ter massacrado tanto, ó parentela ignorante!
Somos meros repositórios de determinismos biológicos e por isso, das duas, uma: ou nos portamos bem e somos estóicos; ou nos portamos mal e nos divertimos à brava.
Mon Dieu, si ce n'est pas la décadence, c'est quand même une sacrée séance...

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.