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Delito de Opinião

Iron Lady

Adolfo Mesquita Nunes, 12.02.12

O jornal Expresso pediu-me que escrevesse umas linhas sobre o filme Iron Lady. Presumi, acho que bem, que o objectivo seria ter a leitura do filme por quem se identifica, e muito, com o legado político de Margaret Thatcher. Foi nesse pressuposto que escrevi o texto que se segue, e que foi publicado na edição de Sábado do suplemento Actual do Expresso -  e que não corresponde, por isso, a uma crítica de cinema (coisa aliás, como já aqui disse, que não sei fazer).

 

 

Um filme sobre Thatcher sem Thatcher

 
‘Iron Lady’ não é um filme sobre Margaret Thatcher. A sua figura é instrumental para os objectivos do filme: divagar sobre a perda (de poder, de faculdades ou de aliados) e moralizar acerca da irrelevância da carreira na hora da morte (ainda que, através dela, se tenha mudado a face do Mundo).

O filme é assim uma oportunidade perdida porque esgota a possibilidade de vermos, neste tempo de crise, o percurso e legado de uma mulher que chegou ao poder quando a Grã-Bretanha atravessava uma das maiores crises da sua história (o FMI, esse mesmo, tivera de entrar no país pouco antes).

Seguindo Hayek e não Keynes, Thatcher retirou o país da decadência e tornou a economia inglesa numa das mais poderosas do Mundo: derrotou a inflação, transformou os tecidos industrial e empresarial, elevou substancialmente o nível de vida, reduziu a opressiva carga fiscal e criou um novo modelo económico (que nem Blair repudiou) favorável à geração de novos empregos e à mobilidade social.

Mesmo para os seus detractores, a importância de Thatcher reside na forma como, com esse modelo, conseguiu transformar económica e socialmente a face do país, contribuindo decisivamente para a queda do muro de Berlim.

Sobre isto, que é tudo, o filme nada diz. Não assistimos a tomadas de decisão política de Thatcher, não conhecemos qualquer linha do seu modelo económico, não sabemos por que razão foi eleita três (!!) vezes, não percebemos o seu papel na queda do muro de Berlim, não vemos os (in)sucessos dos seus governos, e muito menos entendemos porque é que a sua profética desconfiança face à moeda única e ao modelo de governação europeia contribuiu para a sua queda.

De Thatcher fica apenas o retrato demasiado ambíguo de uma mulher que nunca deixou que a percebessem e que agora não é dona da sua vida, o que é coisa pouca para quem paradoxalmente tanto lutou para que os indivíduos e famílias pudessem ter maior controlo sobre as suas vidas.

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