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Delito de Opinião

Melancolia

Teresa Ribeiro, 30.01.12

Será que tudo o que o génio artístico produz é arte? A pergunta é retórica. Por maior que seja o seu talento também os génios que nos alimentam a alma têm dias maus. Se além de génios forem mentes perturbadas, uma situação que, como se sabe, anda muitas vezes a par, o risco de sermos contemplados com excrescências artísticas aumenta. Sempre que sou confrontada com obras assinadas por loucos consagrados que me são apresentadas como sendo de génio, mas que por um motivo ou outro me inspiraram uma profunda rejeição, fico a meditar nestas coisas. Aconteceu-me há dias, quando vi Melancolia, o último filme de Lars Von Trier.

Aquela angústia sufocante, que evolui em crescendo até ao final do filme, incomodou-me tanto que cheguei a ponderar abandonar a sala. Se o fizesse não seria a única naquela sessão. Convenhamos que a câmara permanentemente móvel contribuiu em partes iguais para o meu mal-estar. É uma moda, que começou por ter piada, mas que se está a tornar enjoativa. Quando vejo um filme, a menos que se justifique pela temática estar sempre consciente do meu papel de espectadora, gosto de entrar nele e de me esquecer de tudo à volta. Uma câmara aos saltos perturba-me esse entrosamento e cansa extraordinariamente o olhar.

Mas voltando a Melancolia: senti ao ver o filme que estava a participar de um delírio doentio. A linguagem que ali se falava não era a minha. Busquei nas minhas cavernas mais obscuras razões para me identificar com aquele terror primal mas não encontrei correspondência para aquilo. Porque "aquilo" deixou de ser partilhável a partir do momento em que se tornou demasiado pessoal. Dei comigo, incomodada, a espreitar para dentro da cabeça do Lars Von Trier, quando o que eu gosto, ah se gosto, é de espreitar para dentro da minha. Arte é apresentar ao mundo, com apurado sentido estético, um monólogo apavorado? Talvez, mas nesse caso pintem um quadro (adoro Van Gogh), componham (gosto de Schumann), escrevam (sou fã da Virginia Woolf), mas não façam nada que me retenha duas horas dentro de uma sala escura. É que fico mal disposta.

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