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Delito de Opinião

Cortesias, apresentação e prefácio

José Navarro de Andrade, 03.01.12

Mário Cesariny,

  Mário Cesariny, "Autorretrato aos 53 anos", s.d.

 

De modo que vim aqui ter a esta casa, que já de longe rondava e me parecia muito bem apessoada, trazido por amável convite de Ana Vidal, suavíssima patrícia lá das terras de baixo. Puseram-me à vontade, pelo que seria demais entrar de chapéu na mão, mas prometo não comer a sobremesa toda.

Apresento-me:

A dias de ter a idade que tinha Cesariny quando se autorretratou como acima se vê, também me acontece ter o barco meio afundado ou confundir isso com um horizonte estendido até ao pôr-do-sol, preso atrás da escotilha rebitada. Siga a marinha que por aqui me fico quanto a metáforas náuticas, ao contrário de Mestre Mário que mergulhava bem fundo nessas águas.

As palavras dos outros vêem-nos melhor do que alguma vez conseguiríamos dizer, pelo que não sei se caibo na figura que Alexandre (um génio) O’Neill faz de si mesmo,

 

Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada...)

 

Ou se me hei de abrigar na imagem que de si próprio versejou o intermitente poeta Bocage:

 

Conheço agora já quão vã figura

Em prosa e verso fez meu louco intento.

Musa!... Tivera algum merecimento,

Se um raio da razão seguisse, pura!

 

Entre as diversas imprudências que cometi na vida, a menos funesta terá sido cursar filosofia, o que me fez passar o resto dos anos a desintoxicar-me de mariolas como Deleuze (aquelas unhas...), Hegel e Heidegger, com doses higiénicas de Dewey, Putnam e Rorty. Depois fui indo atrás do que me apareceu e pelo caminho atravessou-se-me o cinema (só a parte dos olhos, que de mãos nunca tive jeito) e a televisão, onde aprendi muito do que sei hoje – creio.

Até nem me tinha dado mal com isto, mas sucedeu 2011 e o seu rol de misérias. Sobrevivi ao ano e cá estou à espera do que dá 2012 e seguintes. Sportinguista mais do que ninguém (à exceção da Sra. D. Maria José Valério), conheço o sabor do desaire e sei que as vitórias são passageiras.

Olhem, há pouco mais a dizer do que isto de modo que não pareça epitáfio – o resto se verá.

Ao que venho? Com a vossa licença, apetece-me falar do que gosto e vou descobrindo gostar ainda mais, além de um par de coisitas que acho saber. Isto já está mau demais para azedumes, rixas, velhacarias e outras vocações neardentais, essas pedras não piso.

‘Bora lá rapazes que está um boi a assar! – como gostava de dizer o grande Assis Pacheco.

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