Parecida. Nada mais.
Um amigo meu instalou-se no Brasil há uns tempos. Curiosamente, reparo agora que das nossas conversas nunca constou o acordo ortográfico, talvez por eu suspeitar que um engenheiro é um reformador nato, insensível aos pruridos dos defensores da forma e da memória - esses terríveis travões do progresso.
Por isso mesmo, foi com surpresa que hoje, no facebook, tive notícias dele, assim:
« Eu nem era, por princípio, contra o acordo ortográfico. Mas fico baralhado com algumas alterações: - Costumo vestir um fato quando vou assistir a um fato importante, ou de facto há coisas que não estão bem? É que eu, terno, só puxo quando jogo as cartas. Haveria mais exemplos mas não me apetece pensar. O que de facto acontece é que eu aqui coloco a cerveja na geladeira e quando vou a Portugal coloco-a no frigorífico. Aqui viajo de trem ou de ônibus e aí de comboio ou autocarro. Eu aí gosto de gozar com os bons amigos mas aqui sou mais selectivo. Os homens (ou omens ?) que se lembraram de fazer o acordo esqueceram-se que não é por decreto que se anula o que 500 anos fizeram. Eu aqui sinto-me muito bem pois o país é muito agradável, há gente boa e a adaptação foi fácil porque a língua é muito parecida. Isso mesmo: PARECIDA. Nada mais. A linguagem que se fala é bastante diferente. Não me parece que seja este o caminho para a uniformização das línguas ».
Boa, Filipe, eu sabia que eras um homem avisado, ou não tivesses saído na hora certa para o outro lado do Atlântico. Mas este teu desabafo vale mais do que dez tratados.
Saravá!