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Delito de Opinião

A CP não presta.

Luís M. Jorge, 15.12.11

Lisboa – Castelo Branco em primeira classe. Chego ao cais e não encontro diferenças entre as carruagens. Depois noto que uma tem bancos de forro avermelhado, para satisfazer a noção de prestígio de quem cobra mais sete ou oito euros pelo trajecto. Infelizmente eu não procurava prestígio mas sossego — aspiração logo contrariada pela horda ululante que invade o compartimento. Claro, são os funcionários da CP e suas mulheres, filhos, noras e gatos, de sacos de plástico nas mãos, bifana entre os dentes, garrafão de vinho à ilharga e imprecações contra os gajos.

 

Os gajos que mandam neles. Os gajos que lhes permitem viajar gratuitamente à janela numa carruagem de primeira igual às outras, enquanto eu pago 23 euros encostado à coluna, de costas para a paisagem, suspirando em vão pela tranquilidade e pela vista que mais uma vez perdi. É sempre assim, só que nunca me lembro que é sempre assim.

 

Evidentemente, não culpo estes palermas. Tal como eles, também acredito que a culpa é dos gajos. Do gajo que dirige o marketing desta merda e ainda não percebeu nem quer perceber que alguns dos seus clientes precisam de trabalhar enquanto viajam. Do gajo que senta o cu no conselho de administração e nunca deve ter posto os pés num comboio, mesmo que mande numa empresa de transportes ferroviários. Do gajo responsável pelas relações laborais, que trocou aumentos por arranjinhos e prebendas em espécie de alcance familiar. Do gajo que nunca quis saber se era errado cobrar mais por um serviço que vale menos ou cortar linhas enquanto se sonha com o TGV. Do gajo que não quis saber se o site pelo qual pagou uma fortuna a um bandido qualquer amigo de um palhaço qualquer do seu partido de sempre aceita reclamações, excepto talvez no único browser que o gajo conhece.

 

A CP é o pior exemplo do que pode acontecer a uma empresa pública assolada por funcionários políticos e separada dos cidadãos. Merece bem o opróbrio e a ruína.

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