Sulfúricas
«Amigos euroentusiastas gostam de brincar com o meu eurocepticismo. ‘Mas onde é que tu julgas que estás? Em Inglaterra?’ De facto, só um alienado pode defender em Portugal a existência de uma União Europeia que seja uma associação voluntária de democracias, mas onde a soberania dos estados é sagrada.
Hoje, admito que eles venceram momentaneamente o debate: a nossa ruína económica e política mostra bem onde nos levou a ‘soberania sagrada’; e, além disso, a Alemanha vai dando sinais de que aceita ‘aprofundar’ a união se os parceiros aceitarem o chicote germânico. Se o euro sobreviver, será por aniquilação das ‘soberanias sagradas’. Uma troca justa?
Os meus amigos pensam que sim. E nem lhes ocorre que esta ‘solução final’ é na verdade um desastre anunciado: o berço de nacionalismos ferozes que farão desta ‘crise do euro’ uma brincadeira de crianças.
Só espero que, quando esse dia chegar, eu possa assistir ao espectáculo de longe. A Inglaterra sempre foi um bom camarote.»
João Pereira Coutinho