Não é greve, é abuso de poder
Das lutas laborais da maioria dos trabalhadores ninguém quer saber, mas quando são os dos transportes que fazem greve, o país pára, escuta e olha. Os trabalhadores deste sector habituaram-se a pôr Portugal suspenso das suas reivindicações, a abrir os telejornais, a semear o caos. Nos braços de ferro com as administrações das EPs onde trabalham, acostumaram-se a usar como factor de pressão o desnorte da população que deixaram apeada. Este poder negocial é um luxo. Constitui uma enorme vantagem sobre todos os outros trabalhadores. Devia haver formas de o neutralizar, não só porque deixa estes trabalhadores em situação negocial privilegiada sobre todos os outros, mas também porque pode evoluir para um jogo perverso.
Toda esta conversa vem a propósito da greve que a CP anunciou: afecta a véspera de Natal, o dia de Natal e o de Ano Novo. Datas que vão complicar a vida aos milhares de utentes que se servem do comboio nesta quadra para ir passar as festas com a família. Escolher deliberadamente este período por forma a causar o máximo de transtorno à população não é recorrer a um legítimo direito dos trabalhadores, mas sim abusar dele. Revela a mais absoluta falta de civismo e de respeito pelos utentes. Não vejo dignidade nesta escolha, por isso não posso respeitá-la. Para mim não passa de pura sacanice.