As contradições de Durão Barroso.
Uma das razões evidentes para estarmos a assistir ao descalabro da União Europeia reside no total apagamento da Comissão Europeia e do seu Presidente Durão Barroso. A Comissão deveria ser a guardiã dos Tratados, mas assiste passivamente à transferência do poder para um (formalmente dois) dos Estados-membros, que se permite até exigir um novo Tratado. Como aqui escrevi, um tratado imposto por um (vá lá, dois) dos Estados-Membros aos outros constitui na prática um Diktat, fazendo lembrar os acordos de Munique que resultaram no desmembramento do Estado checoslovaco. A União Europeia está assim a perder o seu cariz de União de Estados, passando a ser a imposição de sucessivos protectorados.
Ora, Durão Barroso deveria estar na primeira linha de combate contra esta situação. Infelizmente, no entanto, entra em sucessivas contradições, cedendo facilmente à mínima pressão alemã. Se não vejamos. Há uns tempos Durão Barroso anunciou que iria apresentar para breve propostas sobre eurobonds, tendo insistido nelas, e até se falou que haveria um braço-de-ferro entre ele e Angela Merkel. Se havia um braço-de-ferro ele perdeu-o, pois hoje já aparece alinhado com o discurso da chancelerina a dizer que "os eurobonds não são a resposta correcta para a crise" e que "só poderão existir a muito longo prazo". Só que, como diria Keynes, a longo prazo estaremos todos mortos.
Mas há que reconhecer que ainda antes de ter tido lugar, a cimeira europeia foi um êxito estrondoso. Já se conseguiu que os países europeus e as instituições da União Europeia falem todos a uma só voz: é a voz de Berlim.