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Delito de Opinião

Algum juízo, demasiado tarde.

Luís M. Jorge, 29.11.11

Nouriel Roubini, o homem que previu a recessão de 2008, faz uma síntese exemplar da crise do Euro e enumera as soluções que ainda nos restam. A Alemanha está contra, evidentemente. Um trecho com sublinhados meus:

(...) A reflação [estimular a economia através do aumento do suprimento de moeda ou reduzindo taxas, é o oposto de deflação] simétrica é a melhor opção para restaurar a competitividade e o crescimento na periferia da Zona Euro, ao mesmo tempo que se levam a cabo as necessárias medidas de austeridade e reformas estruturais. Isto implica uma significativa flexibilização da política monetária por parte do BCE; provisão de apoio ilimitado de credor de último recurso a economias ilíquidas mas potencialmente solventes; uma forte depreciação do euro, o que poderá transformar os défices das contas correntes em excedentes; e estímulos orçamentais nos países do núcleo se a periferia for obrigada à austeridade.

 

Lamentavelmente, a Alemanha e o BCE opõem-se a esta opção, devido à perspectiva de uma dose temporária de inflação modestamente mais elevada nos países do núcleo da Zona Euro face à periferia.

 

O amargo medicamento que a Alemanha e o BCE querem impor à periferia – a segunda opção – é a deflação recessiva: austeridade orçamental; reformas estruturais visando impulsionar o crescimento da produtividade e reduzir os custos unitários do trabalho; e uma depreciação real, através do ajuste de preços, por oposição ao ajuste da taxa de câmbio nominal.

 

Os problemas com esta opção são imensos. A austeridade orçamental, se bem que necessária, significa uma recessão mais profunda no curto prazo. Mesmo as reformas estruturais reduzem a produção no curto prazo, porque é algo que exige que se despeçam trabalhadores, que se encerrem empresas que estão a dar prejuízos e que seja feita uma realocação gradual da mão-de-obra e do capital em novas indústrias emergentes. Assim, para evitar uma espiral de recessão ainda mais profunda, a periferia precisa de uma depreciação real para melhorar o seu défice externo. Mas mesmo que os preços e salários caiam 30% nos próximos anos, o valor real da dívida aumentará fortemente, agravando a insolvência dos governos e dos devedores privados.

 

(...) Se os países periféricos continuarem enredados numa armadilha deflacionista de elevado endividamento, queda da produção, fraca competitividade e défices externos estruturais, acabarão por se sentir tentados por uma terceira opção: o "default" e a saída da Zona Euro. Isso permitir-lhes-ia revitalizar o crescimento económico e a competitividade, através da depreciação das novas moedas nacionais.

 

Evidentemente, um tal desmoronamento desordenado da Zona Euro constituiria um choque tão severo como o do colapso do Lehman Brothers em 2008, se não mesmo pior.

No mesmo sentido não percam este texto de Vitor Bento, sim o Vitor Bento, que agora se mobiliza contra o fundamentalismo moralista (e quem sou eu para o contrariar?) de alguns governos e do BCE.

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