O fim.
Teresa de Sousa, no Público:
Talvez a maior medida do perigo iminente seja a mudança de discurso nas capitais europeias que costumam ser mais papistas do que Angela Merkel. Em Helsínquia, começa a admitir-se que talvez seja preciso uma intervenção a sério do BCE. Em Haia a mesmíssima coisa. A Áustria prepara medidas dissuasoras. Em Estocolmo, que está fora do euro mas não da Europa, o ministro das Finanças admite que os países superavitários poderiam ir em socorro financeiro dos deficitários.
Eis o canto do cisne da escola económica judaico-cristã. Agora que os efeitos da crise chegam à Espanha, à Itália, à França e à Bélgica, e já nem a Alemanha consegue colocar as suas obrigações de dívida pública a dez anos, suponho que vai ser um pouco mais difícil encontrarmos preguiçosos e irresponsáveis para incriminar. Há cerca de um mês escrevi que
se até agora os cidadãos da UE encaravam a crise da dívida como um problema que a Grécia tinha de resolver para benefício da Europa, mesmo que fosse à custa da humilhação do povo, hoje sabem que é a Europa que tem de resolver o problema da Grécia para seu próprio benefício, se quiser sobreviver. Repito: se quiser.
E aqui, as análises sobre quem tem a culpa ou quem merece um castigo interessam muito pouco. Pois é mesmo assim (sem culpabilizações) que gente adulta enfrenta tempos desesperados.
Em vez de Grécia leiam agora metade da Europa. É o preço da cegueira.