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Delito de Opinião

Eu sou o Esférico e o Esférico é do Sporting

Rui Rocha, 26.11.11

 

Angola, 1973. Os flamingos equilibram-se sobre uma das patas, na sonolência da tarde. O rádio estremece a cada lance de perigo. A ventoinha do tecto espalha o calor pela sala. Observo o meu pai e ouço o relato. Não entendo bem o que se passa, mas vou fixando alguns nomes. Fraguito é muito engraçado. Percebo que tudo se desenrola em volta do Esférico. Deve ser muito bom jogador. Indigno-me quando um jogador do Benfica agarra o Esférico. E fico muito confuso quando, passado uns minutos, é um tal Alhinho, do Sporting, que o agarra. Aproveito um momento de pausa para colocar ao meu pai a dúvida que me atormenta: papá, de que equipa é o Esférico? A resposta surge, surpreendente: o Esférico é de todas as equipas. Arquivo a informação preciosa sobre o mundo da bola: há um jogador chamado Esférico que alinha por todas as equipas. As emoções do relato acabam por me aborrecer. Apetece-me dar um passeio no cavalo de madeira que está na varanda. Fecho os olhos. Agora é no quintal da Avó Palmira, na motróple, que estou a cavalgar. Imagino-me a espreitar a capoeira, de longe. O bico das galinhas sempre me meteu muito medo. Lá estão os frangos. Franguitos. Fraguito. Sim, sim. Está na hora de dar uns pontapés na bola. A baliza é na parede. Hoje chamo-me Esférico e vou marcar muitos golos. Mas, vão todos ser do Sporting. E, logo à noite, quando formos dar a volta dos tristes na Restinga do Lobito, hei-de contar ao Calita quantos marquei. E havemos de apanhar muitos peixes com os frascos de compota em que, para os atrair, colocaremos pequenos pedaços de pão.

 

* Na foto (roubada aqui), a equipa do Sporting na época 1973/74. Não está lá o Esférico. Mas estão: em baixo, da esq. para a dir. - Tomé, Yazalde, Nélson, Márinho, Dinis; em cima, mesma ordem - Laranjeira, Manaca, Alhinho, Damas, Fraguito, Carlos Pereira.

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