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Delito de Opinião

"Não se metam na política"

Pedro Correia, 22.11.11

 

Não há políticos no Governo italiano, liderado pelo ex-comissário europeu Mario Monti. Há sete professores, dois advogados, um banqueiro, um almirante, um jurista, uma antiga delegada da polícia... A intenção é clara: demonstrar aos italianos que chegou a hora de "limpar" o país desse vírus que é a política. Outra coisa não seria de esperar desta equipa governativa que se destina a regenerar Itália para mostrar obediência à Comissão Europeia e ao directório franco-alemão. Monti acumula as funções de chefe do Executivo com as de ministro das Finanças -- um gesto destinado a reforçar o seu perfil de salvador das arcas públicas. Contra a investida desembestada dos mercados que fizeram cair o seu antecessor, Silvio Berlusconi, aliás pessoa nada recomendável a vários títulos.

O novo Governo (na foto, com o Presidente Giorgio Napolitano) tem 16 ministros (em vez dos 23 existentes no consulado de Berlusconi) com uma respeitável média etária -- 63 anos -- e constitui desde já um parêntesis na cena política do país: não resultou de eleições e nenhum dos seus membros é dirigente partidário. Um parêntesis que se prevê longo: não deve haver legislativas em Itália antes de 2013. Ao viabilizarem este Executivo, os deputados italianos prestam assim caução a um corpo estranho à lógica partidária. O que, no limite, põe em causa o maior pilar da democracia representativa.

Não importa: os mercados reagiram bem. A Bolsa de Milão fechou de imediato com uma subida de 0,79%. Isso é o que mais interessa. Se faltam os votos depositados nas urnas, ao menos não faltem as acções em alta.

Daqui a uns meses, talvez esta comissão de sábios agora empossada em Roma consiga demonstrar ao mundo as virtualidades de uma democracia onde os partidos se tornaram meros adereços. Já não disputam o poder: apenas o legitimam.

Após mais de 30 anos como ditador, o general Franco costumava recomendar a quem o visitava no Palácio do Pardo: "Faça como eu, não se meta na política." A cínica sabedoria do caudilho frutifica em Roma quatro décadas depois.

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