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Delito de Opinião

Pontos nos is (2)

João Carvalho, 21.11.11

DECISÕES

I

Sempre que ouço dizer que o Governo atirou fora as questões da Cultura dá-me vontade de rir. Lamento que isto assim dito por pessoas que têm responsabilidades públicas arraste gente anónima que facilmente absorve este tipo de pregões, mas estou-me nas tintas por dois motivos:

— não é a primeira vez que a representação governamental da Cultura deixa de ter um ministro e passa a ter um secretário de Estado;

— a Cultura não dá de comer no imediato a quem tem fome e os tempos são de óbvia e necessária austeridade, o que obriga a hierarquizar com especial critério a intervenção de quem governa.

Porém, acho que há ainda uma boa razão para contrapor aos pseudo-críticos do costume. Desde logo, a vida tem-me demonstrado que a intervenção institucional na Cultura é um tema que suscita sempre ideias geniais à mais distinta intelectualidade da nossa praça, enquanto do lado de fora, mas que os mais iluminados, quando se vêem a decidir, perdem depressa a imaginação criadora e a acção raramente ultrapassa a simples distribuição de verbas (leia-se: redistribuição de impostos).

A boa razão a que me referia é, pois, um dado substantivo e não um devaneio: a Cultura institucional está entregue a um homem de cultura que nada tem a provar para fazer currículo. Chega-me.

II

Vem agora a talhe de foice registar a decisão de Francisco José Viegas, não por ter substituído o director do Teatro Nacional D. Maria II, mas sim por ter demitido Diogo Infante do cargo.

Digo isto sem querer saber das possíveis qualidades de quem foi demitido. Diogo Infante pode ser um excelente actor, encenador, líder de uma companhia de artistas e até um bom economista, dentista, jornalista ou motociclista. Não me interessa. Interessou-me saber, em data recente, que era um mau director do Teatro Nacional D. Maria II, ao exceder as suas funções de modo inadmissível e com consequências públicas de claro impacto.

Ora, ao contrário dos péssimos hábitos portugueses, quando Diogo Infante declarou que a época de 2012 ficava sem efeito, não houve inquéritos nem quaisquer daquelas coisas que ficam a arrastar-se de gabinete em gabinete para intermináveis trocas de argumentos. Nada. O secretário de Estado apontou-lhe a porta de saída sem mais sobressaltos. Caso encerrado.

Teria Diogo Infante fundamentação para encerrar uma das mais importantes instituições culturais do Estado? Dou de barato: até podia ter. Contudo, faltava-lhe o fundamento dos fundamentos, o fundamento supremo, o fundamento indispensável: Diogo Infante não foi eleito pelos portugueses para qualquer posto que lhe permitisse tomar decisões políticas. Não fazia parte das suas atribuições.

O poder político está legitimado por eleições recentes e Francisco José Viegas está à altura do cargo. É bom saber que as questões da Cultura, afinal, não foram atiradas fora, mesmo que os meios sejam modestos. Chega-me.

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