Lisboa antiga (57)
LIVRARIA BERTRAND
(Rua Garrett)
«Foram descendo o Chiado. Do outro lado, os toldos das lojas estendiam no chão uma sombra forte e dentada. E Carlos reconhecia, encostados às mesmas portas, sujeitos que lá deixara havia dez anos, já assim encostados, já assim melancólicos. Tinham rugas, tinham brancas. Mas lá estacionavam ainda, apagados e murchos, rente das mesmas ombreiras, com colarinhos à moda. Depois, diante da Livraria Bertrand, Ega, rindo, tocou o braço de Carlos:
-- Olha quem ali está, à porta do Baltreschi!
Era o Dâmaso. O Dâmaso, barrigudo, nédio, mais pesado, de flor ao peito, mamando um grande charuto, e pasmaceando, com o ar regaladamente embrutecido de um ruminante farto e feliz.»
Eça de Queiroz, Os Maias
Foto: blogue Restos de Colecção