O irreversível eclipse de Zapatero
Um Mariano Rajoy a meio gás, sem necessidade de carregar demasiado no acelerador, derrotou esta noite Alfredo Pérez Rubalcaba, o cabeça de lista do PSOE às próximas legislativas espanholas, no único debate televisivo da campanha. O candidato socialista, que se encontra muito atrás do líder conservador em todas as sondagens, tinha uma missão praticamente impossível: precisava de virar a maré a seu favor neste frente-a-frente acompanhado por milhões de eleitores espanhóis. Não o conseguiu, longe disso. E chegou até a falar como se Rajoy fosse inevitavelmente o "presidente" -- ou seja, primeiro-ministro -- a partir do dia 20.
Esta confissão antecipada de derrota, que pressagia um novo recuo socialista no mapa da governação no Velho Continente, acaba por não surpreender ninguém: Rubalcaba, vice-chefe do Governo espanhol, é hoje o rosto mais visível de um projecto fracassado. Há sete anos, quando Rodríguez Zapatero subiu ao poder, Espanha era a oitava economia mundial e crescia a um ritmo três vezes superior ao da média dos países da zona euro. Hoje destaca-se pela negativa, como recordista do desemprego na Europa: cinco milhões de pessoas estão sem trabalho, o que corresponde a 22,5% da população activa, e 48% dos jovens encontram-se fora do mercado laboral (cinco vezes mais do que sucede na Alemanha). Desde que Zapatero assumiu funções, em 2004, o país caiu cinco pontos na lista dos países desenvolvidos e já esteve sob ameaça de intervenção financeira externa.
Não por acaso, Rubalcaba nem sequer mencionou o nome de Zapatero durante este debate: é como se o PSOE, com ele nominalmente ainda ao leme, se apressasse já a apagar envergonhadamente o seu legado. Quem diria que ainda há poucos anos o chefe do Governo cessante era o maior herói político da incauta esquerda europeia?