O pior cego é o que não quer ver
Uma ilha inserida no habitual circuito turístico grego revela-se um caso digno de figurar no Guinness: 700 dos 35 mil habitantes de Zaquintos recebem pensões de invalidez por terem perdido a vista. A insólita cegueira, ocasionada talvez pela intensidade dos raios solares ou por inesperados efeitos da maresia das translúcidas águas jónicas, custa aos contribuintes gregos a módica quantia de 6,4 milhões de euros anuais. Menciono a expressão "contribuintes gregos" como flor de retórica: todos sabemos quem paga realmente esta factura no país que detém o recorde europeu de evasão fiscal.
Agora, devido à mais que provável pressão dos tenebrosos fiscais alemães, o Ministério da Saúde ateniense lembrou-se de pôr em prática aquilo que há muito se impunha: cada "invisual" terá de fazer prova prévia de invalidez antes de continuar a empochar a pensão. Uma maçada para aqueles que alegam serem cegos de nascença enquanto passeiam alegremente pela ilha sem necessidade de cão-guia nem bengala.
Aposto que todos votariam não no referendo que Papandreou anunciou sem nunca ter intenção de o levar à prática, como o próprio primeiro-ministro grego confessou à Sky News. O pior cego é sempre o que não quer ver.
Imagem: um dos belos areais de Zaquintos, a "ilha dos cegos"