A terceira derrota de José Sócrates
Viragem de página no PS: terminou esta noite o que restava do ciclo político de José Sócrates à frente do maior partido da esquerda portuguesa. Na reunião da Comissão Política do partido, concluída no início da madrugada, vingou por larga maioria a tese do secretário-geral, António José Seguro: os socialistas optam pela abstenção no Orçamento do Estado para 2012. Demarcando-se assim do cenário de polarização política existente na Grécia e dos incendiários internos, que lhe vinham exigindo o voto contra.
É o terceiro -- e definitivo -- desaire político de Sócrates em poucos meses. Perdeu as legislativas para o PSD, perdeu a liderança do partido e acaba de ver os seus homens de confiança derrotados numa votação crucial, com claras repercussões na linha estratégica do PS para o próximo ano. Seguro mostrou-se à altura das circunstâncias. Pelos motivos que antecipei aqui há duas semanas. Interessa-lhe, por um lado, credibilizar a sua imagem associando-a à ideia de estabilidade -- não só na frente interna mas sobretudo aos olhos dos nossos interlocutores internacionais nesta fase em que os holofotes de todas as instituições financeiras estão centrados em Portugal. Interessa-lhe, por outro lado, estabelecer fronteiras à esquerda com o BE e o PCP: o estilo de oposição do PS, como partido dotado de vocação governativa, não pode confundir-se com as manobras tácticas de bloquistas e comunistas, que disputam entre si o campeonato da esquerda radical.
O PS só tem a beneficiar com isso. E o País também.
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