7.000 milhões de oportunidades
O número, redondo e esmagador, aí está. A ONU declarou o dia 31 de Outubro de 2011 como data oficial em que a humanidade passa a contar com 7.000 milhões de seres vivos. Trata-se, como é óbvio, de uma proclamação simbólica. Em rigor, não é possível saber o momento exacto em que a barreira é ultrapassada. O certo é que fizemos um longo caminho. No tempo em que Jesus Cristo viveu seríamos 300 milhões. Em 1927, 2.000 milhões. No ano 2000 éramos mais de 5.000 milhões. A ONU encara a situação como uma oportunidade. A mensagem fundamental é a de que o mundo ainda não é demasiado estreito se os caminhos que forem escolhidos não conduzirem ao abismo. Todavia, este é também o momento em que importa ter presente alguns dados inquietantes. A criança 7.000 milhões tem uma elevadíssima probabilidade de ser pobre. Na verdade, cerca de 3.500 milhões de pessoas vivem com o equivalente a 1,76€ por dia (um maço de tabaco custa o dobro num quiosque perto de si). De acordo com a Unicef, a fome é a principal causa de morte infantil. Morrem de fome 22.000 crianças por dia. No próximo minuto, morrerão 15. Uma morrerá a cada 4 segundos. Estima-se que 1.000 milhões de seres humanos nunca aprenderão a ler e a escrever. Tudo isto são dados estatísticos. A realidade diz que, nos dias que correm, nascer no Corno de África é praticamente uma sentença de morte. Nascer-se mulher em muitas partes do mundo implica ainda uma probabilidade bem maior de condenação à iliteracia. Nos países desenvolvidos nascer negro ainda não é o mesmo que nascer branco. Falta, porventura, um movimento OWS (Occupy the World Streets) que pressione, como aqui explica Gonzalo Fanjul, um novo equilíbrio na afectação de recursos naturais, a iniciativa política e a imaginação que permitam responder às seguintes questões:
- investimento maciço em saúde e educação básicas (o orçamento para educação de todas as crianças do mundo representava, no ano 2000, 1% do investimento total em armamento);
- concretização do direito universal à agua potável;
- investimento na micro-agricultura em África;
- estratégia global para responder à dependência das energias fósseis;
- definição de políticas de migração mais flexíveis.
Tudo isto pressupõe que a lógica puramente nacionalista ceda um pouco perante uma indispensável abordagem humanista. O futuro é ainda uma folha em branco. As opções políticas globais condicionarão as cores com que se pintará o mapa-mundi da sustentabilidade.
* na foto, Danica, a menina 7.000 milhões, nascida nas Filipinas. Vai receber uma bolsa de estudo e os pais terão apoio para abrir uma loja.