Comissão de Serviço XV
A MASCOTE
Em Nampula, a Polícia Militar ficava ao lado das nossas flats.
Tinha uma mascote: um miúdo preto, de uns oito anos, escapado, pelo que se contava, ao massacre da sua aldeia e adoptado pela PM, que lhe fez uma farda e o graduou, se não me falha a memória em capitão.
A unidade tinha ordens para respeitar o artifício. Os sentinelas saudavam-no com o cumprimento devido, acompanhado por um sorriso paternalista, ao que ele respondia fazendo-lhes, muito direito e sério, a continência.
Dormia e comia no quartel. E do que mais gostava era de jogar à bola.
Já na metrópole, perguntei a um velho camarada de armas que fora feito do puto. Respondeu-me que, a poucos dias da independência da colónia, a tropa lhe tirara a farda para o poupar a uma eventual retaliação. Mas que depois fora descoberto por um grupo, embriagado, da Frelimo, despido sobre o balcão de um bar, cuspido e agredido, chorando que não lhe fizessem mal.
[Este episódio era para o fim desta Comissão, mas não aguentei mais.]
(Notinhas de uma guerra engolida)