Quem se vê na TV (5)
João Carvalho, 30.03.09
Os perguntadores agendados
Andam sempre com uma agenda decorada na tola (que é como quem diz: "encornada"). Os perguntadores agendados são repórteres que, normalmente, fazem serviço exterior de cobertura às entradas e saídas de personalidades presentes em quaisquer acontecimentos previamente anunciados.
Para os perguntadores agendados, as respostas que obtêm dos entrevistados à queima-roupa são pouco ou nada importantes. Jamais ouvem as declarações que vão apanhando, por muito que elas suscitem outras perguntas certeiras, porque nunca se habituam a pensar por eles próprios: levam o encadeamento das perguntas que têm para fazer previamente agendado na mioleira. Vejamos um exemplo.
Na campanha para as eleições autárquicas de 2005, Manuel Maria Carrilho era o candidato do PS a presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Certa vez, Carrilho decidiu declarar que acabaria com o problema do trânsito na capital e disse que os bons exemplos têm de vir de cima, dos responsáveis políticos. O disparate é que garantiu aos repórteres que iria pôr o governo todo a andar nos transportes públicos.
Ora, a pergunta necessária seguinte era óbvia: saber se Manuel Maria Carrilho estava ou não a imaginar um ministro numa paragem de autocarro na cavaqueira com o seu segurança ou o primeiro-ministro a entrar numa composição do metropolitano com uma dúzia de guarda-costas atrás em fila.
Claro que essa pergunta mais do que evidente ficou por fazer. O candidato teve sorte na sua parvoíce, porque só havia os perguntadores agendados por perto e eles nem devem tê-lo ouvido falar. Já tinham a pergunta agendada seguinte a escorrer-lhes dos miolos para a ponta da língua. Era, quase de certeza, sobre algum tema palpitante do momento, como o clima ameno de Lisboa e os efeitos para o Mar da Palha do degelo no Ártico...