A moeda de Sócrates
Primeiro, ignorei. Depois, preocupei-me (estouvadamente e em abstracto).
Pouco depois, acossada, tirei-o do banco e meti-o no secreto caseiro, concebido ardilosamente desde a construção do refúgio, para os bules e os brincos de arrecadas.
A seguir, comecei a desconfiar da segurança do reservado (se aquele homem que vinha ler o contador da luz me rouba às descaras, o que não faria em manobras?).
Meti-o então, derrotada, no colchão, sentindo o peso, envergonhada, do retrocesso civilizacional.
(Avô, como te compreendo).
Dentro de muito pouco tempo posso não ter nada: nem para devaneios, nem para livros, nem para iogurtes, nem para patavina. E tenho (isso sim) a quem alimentar debaixo do meu tecto.
Guardei-o, como um filho.
E eis que amanheceu assim.
Amanhã vou às Finanças pagar os meus impostos.
Com isto.
É quanto vale o meu trabalho.
Devolvam-me.
Tudo o que gastaram sem minha autorização.