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Delito de Opinião

A moeda de Sócrates

Laura Ramos, 19.10.11
 
 

 

Primeiro, ignorei. Depois, preocupei-me (estouvadamente e em abstracto).

Pouco depois, acossada, tirei-o do banco e meti-o no secreto caseiro, concebido ardilosamente desde a construção do refúgio, para os bules e os brincos de arrecadas.

A seguir, comecei a desconfiar da segurança do reservado (se aquele homem que vinha ler o contador da luz me rouba às descaras, o que não faria em manobras?).
Meti-o então, derrotada, no colchão, sentindo o peso, envergonhada, do retrocesso civilizacional.

(Avô, como te compreendo).
Dentro de muito pouco tempo posso não ter nada: nem para devaneios, nem para livros, nem para iogurtes, nem para patavina. E tenho (isso sim) a quem alimentar debaixo do meu tecto.

Guardei-o, como um filho.

E eis que amanheceu assim.

 

Amanhã vou às Finanças pagar os meus impostos.

Com isto.

É quanto vale o meu trabalho.

 

Devolvam-me.

Tudo o que gastaram sem minha autorização.

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