Os funcionários públicos são nossos amigos
A sério, Laura. Nós gostamos muito dos funcionários públicos. Num país como Portugal, todos temos pais, irmãos, maridos, mulheres e amigos que são funcionário públicos. Não digas a ninguém, mas nem sequer gostamos apenas dos muitos que são competentes, briosos, esforçados e cumpridores. Mesmo alguns dos outros também nos despertam bons sentimentos. No fundo, sabemos que em todos os funcionários públicos também bate um coração, embora nalguns casos pareça um bocadinho desafinado. Mas, há mais. Para além das emoções positivas que os funcionários públicos que nos são próximos nos despertam, nós os privados também somos um bocadinho interesseiros. Os nossos negócios dependem muito dos funcionários públicos e dos familiares dos funcionários públicos. Se os funcionários públicos e as famílias (isto é, toda a gente) deixarem de comprar os nossos produtos e serviços, nós vendemos menos. Não há pequeno comerciante que não espere ansiosamente pelo dia 23 de cada mês para endireitar as contas. Há, apenas, um pequenino problema. É que o país não tem dinheiro. E por isso, uns sentem-se enteados. Mas, muitos já ficaram órfãos de pai e mãe há algum tempo e há tantos outros que ainda vão a caminho:
- processos de insolvência de empresas triplicaram no primeiro trimestre de 2011.
É claro que existe nestas histórias de drama familiar uma marca de injustiça na distribuição de sacrifícios. Alguns parecem nunca ser atingidos. Mas, relativamente a isso, somos todos iguais. Públicos e privados, órfãos e enteados. Nada mais do que filhos bastardos de grandes senhores feudais.