Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Os enteados da Nação

Laura Ramos, 14.10.11

 

Na verdade, ninguém está verdadeiramente interessado em saber porque é que os funcionários públicos são tidos pelo que são.

Se estivermos em dia sim e tomados de complacência, vemo-los como uns pobres diabos.

São aqueles cromos queirosianos de sempre, alheados de qualquer chama, brio ou ambição. Uns mangas-de-alpaca empedernidos e previsíveis, tecnicamente desclassificados e com cara de fraco ordenado (que em absoluto merecem).

Mas se estivermos em dia não e tomados pelos azeites, o julgamento enfurece-se e vemo-los com as cores fortes de uma caricatura de Bordalo.

São os agentes do atraso nacional; a corja de incompetentes do costume; os oportunistas com ideário de pacotilha; os abusadores do erário público, bafejados pela sorte imerecida de um dolce far niente que o tesouro nacional sustenta.

 

É uma vexata quaestio que reproduz o timbre das nossas relações com o Estado, enquanto cidadãos.

Mas o facto é que quem por lá está- ou esteve - sabe bem como as coisas são na realidade.

Um universo laboral igual a muitos outros, onde coexistem bons e maus profissionais; possuídos de espírito de missão ou de puro mercenariado; gente brilhante ou de uma limitação confrangedora; homens e mulheres sérios e 'menos sérios'.

E quem por lá está sabe também que isto acontece a qualquer nível.

Quer quanto aos trabalhadores do fundo da pirâmide, quer quanto aos directores e sub-directores gerais nomeados pelos governos. Porque se estes lá calharam muitas vezes pelos melhores motivos (a competência técnica) não se livram de ombrear com criaturas incapazes e oportunistas.

 

Cá de fora, vislumbramos sempre a sombra do pecado evidente, os sinais de parasitismo, as garantias especiais (na verdade, lendárias, na pura acepção da palavra).

Presos destes atavismos pré-democráticos, se não conhecemos a realidade, como poderemos sequer apreciá-la?
E perceber os seus efeitos benéficos (ou os seus fundamentos)?

 

Há uma falta de cultura gritante nesta reprovação social: entendem isto?

Tão confragedora que nem permite alcançar o quanto se reflecte negativamente sobre os todos os cidadãos em geral, e não só sobre os membros da dita classe maldita.

22 comentários

Comentar post