Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Algumas questões, umas pertinentes e outras não

Rui Rocha, 13.10.11

Perante a gravidade da situação do país e das medidas anunciadas por Pedro Passos Coelho há um conjunto de reacções e ilusões que são completamente despropositadas. Aqui vão algumas:

 

1 - Discussão entre austeridade e estímulo económico: num país em que o Estado está sem dinheiro para pagar salários, absolutamente dependente do financiamento estrangeiro, pretende-se investir exactamente o quê? E, já agora, não foi um certo tipo de investimento que, em boa parte, nos trouxe até aqui? O certo é que o dinheiro que temos não é nosso, é emprestado, e fazemos com ele o que nos mandam. Assim, o único investimento que pode chegar à nossa economia é o investimento directo estrangeiro. De empresas que se queiram instalar no nosso país. Se o conseguirmos tornar atractivo. Impedidos de responder no imediato com alterações estruturais (justiça, qualificação), resta-nos intervir nos custos do factor trabalho (diminuição dos feriados ou aumento do horário de trabalho são exemplos, porventura de eficácia reduzida). No mais, falar de investimento do Estado nas actuais circunstâncias é completamente irrealista.

2 - Ilusão de que os funcionários públicos são os grandes sacrificados: sim, é verdade que vão perder poder de compra. Mas, vão, até ver, manter o emprego. No privado, a crise pagar-se-á com falências e desemprego maciço. Alguém no sector público estará interessado em trocar?

3 - A ideia de que os sacrifícios têm de valer a pena: na medida em que está implícita a possibilidade de, algum dia, num futuro mais ou menos próximo, podermos regressar aos níveis de consumo dos últimos anos. Nada mais falso. Depois do túnel, se houver alguma coisa, será frugalidade e contenção. E já não será nada mau.

 

Posto isto, há algumas interrogações que são, essas sim, pertinentes. E todas têm dimensão ética. A primeira diz respeito à avaliação das promessas e compromissos eleitorais de Passos Coelho. Está a violar aquilo a que se vinculou e, em casos afirmativo, tem para isso justificação? A resposta é fundamental para percebermos da viabilidade do vínculo de confiança que deve existir entre eleitores e governantes. A segunda coloca-se ao nível da repartição dos sacrifícios. Está a classe média a ser a única sacrificada ou aqueles a quem chamamos ricos estão também a ser chamados a participar no esforço nacional? Existe um esforço sério para combater a corrupção e a utilização abusiva de dinheiros públicos? Está a ser percorrido caminho no sentido de assegurar a frugalidade e equilíbrio nas remunerações dos titulares de cargos públicos? E responder a isto é fundamental para percebermos da viabilidade da manutenção da paz social.

14 comentários

Comentar post