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Delito de Opinião

Do murro no estômago ao ataque cardíaco

Luís Menezes Leitão, 12.10.11

 

Numa demonstração eloquente de que a situação de Portugal só tem piorado nos últimos tempos, o Primeiro-Ministro refinou a metáfora usada para descrever os efeitos dos sucessivos golpes que vão atingindo o nosso país. Já tinha criticado aqui a sua qualificação de "murro no estômago" atribuída ao corte de rating de Portugal pela Moody's por achar que um chefe de governo não pode reagir assim a uma decisão de notação de uma qualquer agência de rating. Agora parece que o nosso Primeiro-Ministro resolveu dizer à sua homóloga eslovaca, a Primeira-Ministra Iveta Radicova, que o facto de o parlamento eslovaco não ter viabilizado o reforço do fundo de resgate europeu lhe estava a provocar um "ataque cardíaco". Demonstrando uma enorme solidariedade e discrição, a referida Iveta Radicova não hesitou em espalhar a notícia do "ataque cardíaco" que chegou rapidamente ao Financial Times. Em consequência, para a Europa já não somos apenas um pais atingido no estômago, uma vez que o nosso mal já se espalhou para o coração.

 

Uma coisa é, porém, evidente nesta nova União Europeia, que de União já não tem nada: cada país apenas defende os seus próprios interesses. É por isso que para o parlamento eslovaco será absolutamente irrelevante que o Primeiro-Ministro português fique ou não a sofrer do coração em resultado da sua decisão. O parlamento eslovaco cuida dos interesses dos cidadãos eslovacos e não quer saber do resto dos europeus. Talvez por isso fosse altura de o parlamento português se preocupar com os interesses dos nossos cidadãos em vez de tudo fazer para contentar os credores internacionais. Porque no resto da Europa ninguém se vai preocupar com a situação dos portugueses, como ninguém se preocupa hoje com a situação dos gregos.

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