Do baú: Um conto infantil – Dona Esmeralda e a toupeira
Entre vizinhos todos conheciam a Dona Esmeralda, que se queixava dos buracos das toupeiras. Tinha olheiras de quem passava à noite à coca e comichava do nascer ao por do sol. E, todos os dias, a vizinhança prestável, fazia o frete de ajudar na caçada cega.
Tempos passados a Dona Esmeralda abandonou o queixume e a vizinhança continuou a aguardar as suas lamentas. Queriam saber se os buracos do bicharoco ainda lhe fazia doer a vista e dar gritos de meia-noite.
“Não” retorquiu.
A Dona Esmeralda, porém, continuava pálida e de ar frustrado, mas, quando confrontada com as perguntas armadas da vizinhança, dizia:“Não,não . Não é grave”.
Tempos depois deixou-se de pôr olho na Dona Esmeralda. Buscou-se a senhora e encontrou-se o seu cadáver no jardim – perfurado pela amargura interna. Tinha túneis escavados pelo corpo - de enfiar o punho inteiro -, mas, enfim, tinha um jardim floreado e sem buracos de toupeira.
De facto o foro emocional era, naquela vizinhança, ainda mais privativo que o jardim das traseiras.
Julho, 2009