Nós, o acordo ortográfico e os nossos filhos
Há uns dias falou-se bastante, por aqui, do acordo ortográfico. Pondo de parte, agora, a questão básica da existência do acordo (em relação à qual tenho muitas dúvidas, embora tenda a considerá-lo mais negativo do que positivo), tenho pensado bastante, nos últimos tempos, com o início do ano escolar, na forma como a sociedade em geral e a escola em particular irão lidar com a situação inédita, para muitos de nós, da coexistência simultânea de duas grafias e do surgimento constante de dúvidas concretas na aplicação do acordo.
E se na comunicação social o novo acordo tem penetrado paulatinamente, nas escolas não entendi ainda como será operacionalizada a sua introdução. Os programas, os manuais das diversas disciplinas, a formação dos professores que alterações terão que introduzir?
E em casa? O que vamos nós fazer? Os nossos filhos passarão a escrever de uma maneira e nós, mais avessos à mudança, deliberadamente ou não, de outra? Já são tantas as coisas que nos afastam e agora até a forma como escrevemos?
E os avós, que dão uma ajudinha e para quem, ao longo da vida, não têm visto grandes alterações a este nível? Será que se conseguirão habituar?
Cá para mim já será bom se os miúdos, perante as duas hipóteses, não optarem por uma terceira: a das grafias abreviadas das escritas de mensagens via telemóvel e redes informáticas.
Estas vão ganhando terreno e entraram já na linguagem verbal. As minhas filhas, por vezes, dizem já: obg, em vez de obrigada; MG em vez de My God; e pior ainda, já não riem, limitando-se a dizer Lol.
Claro que todas estas angústias serão ultrapassadas daqui a algum tempo. Mas, por enquanto, não deixam de me preocupar.