«O senhor Mesquita tinha a certeza de que à noite se transformava num tubarão‑martelo. Tirando tal convicção, que a família acatava com serena bonomia, o senhor Mesquita passava por ser uma pessoa quase normal. É verdade que acordava asfixiado todas as manhãs, e que levava alguns segundos até conseguir adaptar‑se ao novo ambiente. A seguir barbeava‑se, vestia‑se, lia o jornal enquanto bebia café e... trincava torradas, e quando saía de casa, a pé, em direção ao emprego, a uns duzentos metros, se tanto, na esquina mais próxima, já era inteiramente um homem. Um homem comum.»
José Eduardo Agualusa, “Uma Pessoa quase Normal” in A EDUCAÇÃO SENTIMENTAL DOS PÁSSAROS – onze contos sobre anjos, demónios e outras pessoas quase normais, Dom Quixote