Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Ainda os Graffiti. A minha contribuição.

Ana Lima, 28.09.11

Isto de só ter tempo para os blogues tarde e a más horas é o que dá. Corro o risco de vir já um pouco fora de contexto (agora que a discussão está praticamente encerrada). Mas porque este é um tema que me interessa e sobre o qual já estudei algumas coisas pensei que poderia meter a minha colher.

 

Terão razão os dois “Luíses”. Cada um, dentro de uma perspectiva diferente. Eu concordo com o Luís Menezes Leitão em alguns aspectos e com o Luís M. Jorge noutros. E, ponto prévio, gosto, de uma forma geral, de graffiti.

 

Há quem considere as pinturas e gravuras rupestres a primeira forma de graffiti, confundindo-se, assim, com a primeira forma de arte. Mesmo não indo tão longe é unanimemente aceite que o graffiti se tornou fundamental na civilização romana uma vez que não havia parede que não fosse aproveitada para inscrever, a carvão (daí o nome), os protestos, as ordens, os acontecimentos públicos, aquilo que se queria dizer a alguém sem se denunciar a autoria. (Se se lembrarem da série “Roma” era assim que as paredes apareciam e os historiadores dizem que é um retrato fiel daquela altura). Ao longo dos séculos nunca deixou de se escrever e desenhar nas paredes. Passando para um tempo bem mais perto de nós, quando, em  Maio de 68, os muros serviram de suporte das mensagens era a transgressão que contava. Foi essa transgressão que levou muitos a adoptarem os muros e os comboios das cidades norte americanas, nos anos 60 e 70 do século passado, como as telas onde eram desenhadas imagens e mensagens de protesto, utilizando já não o carvão mas materiais mais recentes como eram as tintas em spray. Foi esse movimento que se estendeu a todo o mundo, tornando-se uma forma de arte urbana. O muro de Berlim foi durante anos estudado, os artistas mais emblemáticos (Jean-Michel Basquiat, por exemplo, ou mais recentemente Banksy) foram alvos de teses. Também os grandes museus do mundo fazem exposições de obras de graffiters. Em Portugal o Museu Efémero foi uma iniciativa interessante no Bairro Alto, em Lisboa. Ainda agora, de vez em quando, aparecem, naquele bairro, obras de artistas “consagrados” no meio.  E a exposição do ano passado, no museu do CCB, dos “Gémeos” brasileiros estava muito bem conseguida.

 

E os “Gémeos” trazem-me à actualidade. São eles os autores dos graffiti que a Câmara de Lisboa autorizou nos edifícios da Av. Fontes Pereira de Melo. Neste momento vale a pena dizer que a terminologia associada a esta arte urbana é imensa e que distingue vários tipos de inscricões e vários tipos de graffiters. Mas mesmo não falando dessa questão aqui, não se pode deixar de distinguir o que é a complexidade de um graffiti, de um conjunto sem nexo de tags, as malfadadas assinaturas, que aparecem na primeira fotografia do Luís Menezes Leitão (na R. Diário de Notícias, parece-me) e que são, normalmente, feitas apenas para marcar um território ou meramente com a intenção deliberada de sujar. (Em Portugal não se utiliza tanto mas no Brasil distingue-se completamente entre graffiti e pichação). Nem podemos pensar que qualquer parede poderá servir de suporte aos graffiti. Os “verdadeiros graffiters” normalmente seleccionam criteriosamente esses suportes.

 

Então o que podem ou devem fazer as câmaras? Não é por nunca terem pensado no assunto que ele não é resolvido. Algumas autarquias reprimem, pura e simplesmente o que, até agora, não se tem revelado eficaz. Os graffiters são transgressores e o risco de ser apanhado faz parte das condições de realização dos trabalhos. O principal debate está em saber se se deve dar um enquadramento legal, disponibilizando espaços onde os artistas possam desenhar com o compromisso de o fazerem apenas nesses locais. A Galeria de Arte Urbana, em Lisboa, ou as pinturas de viadutos e túneis no município de Oeiras são disso exemplo. Mas, dentro da comunidade de graffiters, muitas são as vozes que entendem que essa situação é uma subversão completa do espírito do graffiti que inclui sempre o elemento transgressor e que a sua institucionalização não faz qualquer sentido.

 

No Porto não sei se já foi feita alguma coisa neste âmbito mas em Lisboa optou-se por uma situação mista. Ao mesmo tempo que se põem à disposição espaços próprios (os painéis na Calçada da Glória, por exemplo), avançam-se acções de limpeza de fachadas.  Quem conhece o Bairro Alto sabe que, de há uns meses a esta parte, tem sido feita uma campanha de remoção de graffiti, limpeza e repintura de paredes que, em algumas ruas, tem feito uma enorme diferença. A ideia da autarquia era estender a acção a outros bairros. Mas o contrato com a empresa acabará e a fiscalização, que hoje em dia é diária e tem corrigido as situações que todas as manhãs surgem, não poderá ser feita eternamente. A fiscalização policial também existe mas, tal como em tantos outros casos, não é, nem nunca será, suficiente. Falou-se nas câmaras de vigilância que podiam ajudar a esse controle mas também não chegaram a ser instaladas. Os moradores estão satisfeitos com o esforço mas as verbas para o efeito são limitadas e para a câmara é um verdadeiro trabalho de Penélope. 

2 comentários

  • Imagem de perfil

    Ana Lima 29.09.2011

    Os writers ou graffiters têm regras e normas de conduta internas pelas quais regem os seus comportamentos. E têm bem definidas as diferenças entre as várias técnicas e o que representam. É para o público que se torna mais complexo definir a linha entre o que é arte e o que não é. Mas há coisas tão gritantes que não parece haver qualquer dúvida.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.