Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Junta médica com dislexia mental...

João Carvalho, 26.03.09

bannerTitle

Mantenho um amigo desde a juventude. Casou, tem dois filhos e continuo amigo deles todos. Um dos rapazes anda actualmente pelos 20 anos. É disléxico. As primeiras dificuldades notaram-se desde tenra idade e os primeiros tempos de escolaridade confirmaram uma dislexia profunda na leitura e na escrita.

A luta dos pais, a boa formação e educação do agregado, foram sempre essenciais. Encontraram muita gente compreensiva e colaborante, mas tiveram de lutar contra muitos professores e contra o Ministério da Educação vezes sem conta,  ao longo dos anos. Apesar de o Jorge ser inteligente e ter sido sempre muito esforçado, não faltaram docentes (imagine-se) a defender a ideia de que, tal como os deficientes motores não se movem como as pessoas saudáveis, também os disléxicos têm de encarar deixar o ensino pelo caminho!

A verdade é que lá foram vencendo cada luta travada e cada processo a reivindicar direitos óbvios. Hoje, o Jorge aceita muito bem a sua fragilidade. Tem sido um estudante bem sucedido, graças à família, aos professores (de português, designadamente, que o foram dando como apto para poder progredir) e ao seu próprio esforço. Está numa faculdade, a caminho de obter um curso de que gosta, certo de que o seu futuro profissional nunca passará pelo domínio de outras línguas.

O Jorge tem uma bolsa de estudo, claro, para a qual foi fazendo prova anual do seu problema limitador e do rendimento académico. O actual governo, que tenta cortar quaisquer benefícios a todo o custo, quis que ele fosse avaliado este ano por uma junta médica. E ele lá foi cumprir a determinação do Ministério da Educação.

Entrou e o primeiro dos cinco médicos presentes a abrir a boca perguntou-lhe:

— Então tem dislexia, não é verdade? E como é que apanhou isso?...

30 comentários

Comentar post