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Delito de Opinião

Entrevista a Sócrates, o pós-moderno

Rui Rocha, 22.09.11

 

O DELITO DE OPINIÃO orgulha-se de ser o primeiro blogue a obter, em exclusivo, uma entrevista com o anterior primeiro-ministro. Impõe-se um agradecimento a José Sócrates pela sua disponibilidade e pela forma sincera como respondeu às nossas perguntas. O documento, que reputamos de histórico, aqui fica para avaliação de quantos o lerem. Por escrito, que palavras leva-os o vento.

 

Religião:

- Em certas circunstâncias, admito que possa ser um bom investimento. Um dia, talvez possa ter uma. A minha.

Felicidade:

- Sempre. Enquadrada por uma política de Estado destinada a promovê-la e a incentivá-la. No futuro, também a medi-la.

Auto-estima:

- Completamente. Quem inventou o conceito não devia esconder-se na sua modéstia. Mas, não esqueço que a opinião dos outros é a fonte do meu sucesso. É fundamental influenciá-la. Tal e qual como faço com o meu espelho.

Arte:

- Fundamental. Interessam-me todos os artistas ainda vivos. Não existe nenhuma vantagem em dedicar tempo aos clássicos, a todos os que já desapareceram. Nenhum deles pode falar bem de mim. Prescindir dos clássicos deixa-me à vontade para promover todos os que estão vivos e esperar o retorno.

Polémica:

- Indispensável. Encaro-a como instrumento de notoriedade. Tudo o que nos rodeia é tão relativo como o gosto literário. Tornarmo-nos objecto de polémica ou polemizar sobre os mais diversos temas, daí retirando todo o benefício inerente, deveria ser o nosso objectivo prioritário.

Convicções políticas:

- Tenho. Mas, não me revejo nas causas da militância tradicional. A esquerda e a direita são divisões redutoras. A esquerda de quem desce é a direita de quem sobe.

Ética:

- Sou um crítico da ética da responsabilidade. A ética deve ser mediada pelo resultado. Prefiro a ética do cálculo e do benefício. Não há justiça, só êxito. O enriquecimento rápido, que muitos criticam, é para mim prova de competência. É claro que existe sempre uma corrente conservadora que se alimenta de inveja e de escândalos. Os escândalos são para mim, todavia, um sintoma do sucesso.

Causas:

- Todas. Exerço em permanência a minha liberdade de escolha. Escolho as minhas marcas, a moda, as minhas referências. O socialismo de mercado que defendo é isso mesmo. O espaço onde o romantismo das causas e a bolsa de valores se encontram, em síntese, mas com clara prevalência para esta última. É o mercado que nos proporciona o momento da afirmação da nossa identidade.

Pobreza:

- Não gosto. Os intelectuais é que gostam de pobreza. Eu sou um pragmático. É preciso que os pobres tenham tudo o que for necessário para que a minha aspiração de sucesso material tenha legitimidade. Não suportaria um país em que a minha ambição pessoal, as minhas férias, os meus gadgets, os meus jantares, pudessem ser considerados ofensivos por quem não tem nada. É para isso que serve, entre outras coisas, o Estado Social.

Filosofia e Pensamento:

- Senti a vertigem da descoberta ao ler Nietzsche na sua vertente niilista. Para além disso, aprecio muito Des Cartes. E Des Epistoles também.

Amizade:

- Os meus cães. Tenho com eles o entendimento perfeito. Não há competição entre nós, nem conflito de vontades. Eu mando e eles obedecem.

Relação consigo próprio:

- Não podia viver sem mim.

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