Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O meu imposto é melhor do que o teu

Rui Rocha, 05.09.11

Ainda sou do tempo em que a competência para discutir novos impostos estava atribuída à Assembleia da República. Agora, pelo visto, para se ser um bom cidadão, mais do que pagar impostos, importa é propor novos caminhos na cruzada do esbulho fiscal. Não falta quem esteja disposto a contribuir. Com propostas, entenda-se. De Cavaco Silva a aprendizes de Warren Buffett, cada vez há mais praticantes deste desporto nacional. O último foi o Bastonário da Ordem dos Médicos. Diagnóstico feito, veio rápida a prescrição. Tribute-se o fast food. Uma boa ideia, à primeira vista. Mas, aprofundado o assunto, parece-me que, tal como no caso do imposto sobre os ricos, a medida apresenta um conjunto de dificuldades técnicas insuperáveis. Desde logo, o próprio conceito. Ainda é fast food um hambúrguer se o comermos devagar? Justificar-se-ia, ou não, uma isenção para o kebab? E depois é preciso ter em conta que muitas cadeias de fast food são estrangeiras. E nós não podemos afastar o investimento estrangeiro, pois não? E temos ainda a fuga de capitais. Com o tal imposto não faltaria por aí empresário que preferisse, em lugar de investir na Avenida de Roma, abrir o seu McCoiso em Ayamonte, Tui ou Verín. Posto isto, aguardo com ansiedade o contra-ataque do Bastonário da Ordem dos Advogados (ousará avançar com um imposto sobre as batas brancas?)  e da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros: um imposto sobre as togas negras, mesmo sabendo que contaria com a oposição da Associação Sindical dos Juízes? Enfim, tudo somado, parece-me que, mais uma vez, o bolinho de bacalhau é que se vai lixar.

20 comentários

Comentar post