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Delito de Opinião

Reflexão do dia

Pedro Correia, 28.08.11

 

«'Façamos um raciocínio meramente experimental', escrevia a académica americana Anne-Marie Slaughter no Financial Times, na quinta-feira passada. 'Imaginemos que a ONU não tinha votado a autorização do uso da força na Líbia, em Março passado. Que a NATO não tinha feito nada. Que o coronel Kadhafi tinha tomado Bengasi. Que os Estados Unidos tinham ficado a ver. Que a oposição líbia ficara reduzida a um ou outro protesto, rapidamente esmagado...'

Para o povo líbio e para a Primavera Árabe, as consequências deste cenário alternativo teriam sido obviamente catastróficas. E para a Europa? Teria sido absolutamente insuportável do ponto de vista moral e do ponto de vista político. Os europeus passaram anos a apostar na 'estabilidade' do mundo árabe, garantida pelos regimes mais ou menos opressores que dominavam a região. Com ou sem estados de alma, conviveram tranquilamente con Ben Ali ou Mubarak e passaram a ser (uns mais do que outros) visitas assíduas à célebre tenda do coronel Kadhafi, sobretudo a partir do momento em que o ditador aceitou renunciar ao terrorismo e a qualquer ambição nuclear a troco da reabilitação ocidental. No início deste ano, descobriram que, afinal, a única alternativa aos ditadores não era o fundamentalismo islâmico, que os povos da região também aspiravam à dignidade e à liberdade e resolveram agarrar no destino com as próprias mãos. Teve de rever a sua estratégia. Imagina-se o que teria significado se os mesmos visitantes da tenda assistissem impávidos e impotentes a um massacre em Bengasi.»

Teresa de Sousa, no Público