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Delito de Opinião

O sexo da escrita - Prova cega (10)

Ana Vidal, 01.09.11

 

"Decorria um Inverno suave, com manhãs de rara bruma, e os peixes vinham desovar mais cedo nas águas tépidas daquele rio que tinha a mesma mancha fluida e ponderada do D. E justamente C. teve que lembrar outra vez aqueles dias provençais, as caminhadas à tarde na aldeia, sob cujos plátanos o pó adormecera; ouviam-se os gritos dum grupo de jovens estudantes americanos, e com eles vinha L., com a sua saudável compleição sedimentada numa infância com geleia de amoras e flocos de aveia, uma rapariga doce e tranquila que lhe dizia sempre «Deve ser um homem extraordinário, Mr. C., se já aos vinte anos se aborrecia.» Ela gostava de tudo, de estudar a gramática francesa, de passear no campo e de atravessar a pé a pontezinha de tábuas, pois os passageiros dos veículos pesados apeavam-se antes e tinham de caminhar no pequeno tabuleiro que tremia e rangia. Possuía o que se chama, na província do D., para designar a frescura e o entusiasmo dos verdes anos, «a novidade»".


Pergunta-se: Este texto foi escrito por um homem ou por uma mulher? Fundamente a sua resposta. O nome do(a) autor(a) será divulgado logo que haja respostas suficientes para que este desafio tenha algum interesse. E, para que tenha realmente interesse, por favor evite a batota. Isto não é um concurso de erudição nem o objectivo é identificar os autores. O que realmente se pretende é discutir se existe ou não uma escrita literária sexuada, ainda que as amostras que aqui apresento sejam, como é óbvio, necessariamente insuficientes para classificar toda a obra de um autor.

 

Solução (1 Set/2.40h): Agustina Bessa-Luís – “As Relações Humanas”.  Para fechar com chave de ouro, esta 10ª prova cega vem dar largos pontos à minha teoria de que pode ser muito difícil distinguir a escrita feminina da masculina, quando o(a) escritor(a) assim o quiser. Bem sei que escolhi uma escritora bastante difícl desta vez, além de um texto que remete para clássicos aparentemente demodés. Mas... guerra é guerra! Para mim, sem o prazer de deitar-me a adivinhar, o desafio foi entreter-me a reparar nos argumentos de homens e mulheres para justificar opiniões sobre um mesmo texto. Essa argumentação, sim, foi nitidamente sexuada. O que retira pontos à minha teoria, vendo bem. Enfim, apesar da "guerra", o que se pretendia não era contar espingardas mas reflectir e brincar um pouco com assuntos tão sérios como a literatura e o sexo. Obrigada a todos (e a todas, como parece que se diz agora) que aceitaram jogar este passatempo. Foi divertido, não foi? Um dia destes repito a graça com outro tema.

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