Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades!
Metamorphosis of Narcissus
A frase de Almada Negreiros (in Ultimatum Futurista às gerações portuguesas do séc. XX) é um bom ponto de partida.
(Sei lá porquê... ou talvez não... deu-me para republicar isto).
Há uma estranha disfunção entre os portugueses, naquilo que toca à sua auto-imagem.
Quando se trata de medir as suas próprias capacidades individuais - e se lhes pediria portanto que fossem redobradamente objectivos, justos e razoáveis -, cada um é o maior.
A avaliar pelas críticas fáceis e demolidoras com que invariavelmente brindam o seu próximo (sobretudo se este estiver na berlinda, e especialmente na berlinda política), o auto-conceito de cada português é benemérito e generoso, pois nunca há desempenho alheio que o satisfaça.
Contudo, quando a avaliação incide sobre as capacidades colectivas, enquanto povo, o português é surpreendentemente exigente e do mais masoquista e auto-destruidor que pode imaginar-se.
Não há alma colectiva, não há orgulho. Não há força, nem fé, nem uma arriba! que nos sustente o salto.
Portanto, quanto à capacidade de auto-crítica (: as qualidades), estamos falados.
O erro de perspectiva é revelador.
Quando esta relação de forças se inverter talvez nós, portugueses, cheguemos a algum lado.
Ficaremos então auto-exigentes. E compreenderemos (só assim é possível) as limitações do próximo.
Claro, o que chateia nesta distorção toda, para além do ridículo, é que até lá é Portugal quem paga, e todos nós atrás.