Hemingway, Fidel e Fuentes
Norberto Fuentes é um escritor que fez parte do círculo íntimo do poder comunista em Havana e chegou a ser confidente de Raúl Castro durante os longos anos em que o irmão mais novo de Fidel se limitava a aguardar pacientemente que chegasse a sua hora de ascender ao posto cimeiro da hierarquia política em Cuba. Durante o período da intervenção cubana em Angola, nas décadas de 70 e 80, esteve lá destacado numa missão de que foi incumbido pelo próprio Fidel Castro, tendo sido um dos cronistas dessas expedições militares que de algum modo assinalaram o canto do cisne da Guerra Fria.
Fuentes também é um dos autores mais bem documentados sobre Ernest Hemingway, a quem dedicou anos de investigação. Recolheu muitas confidências de Gregorio Fuentes, que foi o piloto do iate Pilar, de Hemingway, e serviu de inspiração ao inesquecível pescador Santiago, da novela O Velho e o Mar. Um dia, em Havana, falou livremente sobre Mario Vargas Llosa, já então proscrito pelo regime castrista devido às suas críticas desassombradas ao sistema ditatorial que perseguia os melhores cidadãos de Cuba. “Como romancista é bom, mas interessa-me mais como político. É uma das melhores cabeças deste continente”, confessou um dia ao escritor espanhol J. J. Armas Marcelo, biógrafo e amigo de Llosa. Este episódio, passado nos anos de chumbo do castrismo, vem descrito no livro Vargas Llosa: El Vicio de Escribir, de Armas Marcelo.
Pouco tempo depois, à semelhança do que fizeram mais de três milhões de cubanos desde a instalação da ditadura comunista em 1959, Fuentes conseguiu abandonar a ilha-prisão, rumando ao exílio em Miami. E de lá legou ao mundo dois livros considerados fundamentais sobre dois homens que para sempre ficarão ligados à história cubana: Autobiografía de Fidel Castro e Hemingway en Cuba.
Dois livros que pretendo adquirir e ler sem demora.
Foto: Ernest Hemingway e Fidel Castro na única vez em que se encontraram (Cojímar, Cuba, Maio de 1959)