Que tudo mude para que nada mude
Na Síria, organizações de direitos humanos contabilizam já 1700 mortos desde o início do levantamento popular contra o ditador. Nada que mereça, por cá, uma só palavra da extrema-esquerda incendiária: ao 5 Dias apenas interessa ver Londres a arder. "É preciso que a destruição seja total!!", berra o professor Vidal, o maior esbanjador de pontos de exclamação da blogosfera portuguesa. Assad, o titular de uma dinastia sanguinária que oprime os sírios há meio século, é um gajo porreiro para estes mecos: "criminoso" é Cameron, eleito por voto popular. E há já mesmo quem pretenda ver Portugal transformado numa "nova Inglaterra" - desde que não lhe queimem a casinha, o carrito e a magra biblioteca, presumo.
Estes pequeno-burgueses excitam-se sempre que vêem uma viatura a arder, imaginando um Jean Valjean munido de BlackBerry em cada pilhador de subúrbio numa grande cidade europeia. Ao lê-los, vem-me à memória uma frase de J. G. Ballard: "There's nothing like a little violence to tone up the system."
Pura verdade. Sem necessidade de ponto de exclamação algum.
ADENDA. O Sérgio Lavos diz aqui praticamente o mesmo por outras palavras: "Os motins são escaramuças inúteis, improdutivas, que apenas poderão ter como consequência um reforço da legitimidade de uma sociedade que discrimina e guetiza parte dos seus cidadãos." É óbvio.