Um museu a visitar
Não há descrições da região do Douro que não falem da dureza do trabalho que teve que ser levado a cabo para construir uma paisagem como a que vemos quando percorremos as margens do rio. Miguel Torga escrevia, num dos textos mais conhecidos: “No Portugal telúrico e fluvial não conheço outro drama assim, feito de carne e de sangue…”. Não que seja sequer comparável mas, até para percorrermos os caminhos, feitos de subidas e descidas, curvas e curvas e mais curvas precisamos de travar uma batalha, nós que estamos agora habituados às auto-estradas e vias rápidas. Mas, chegados ao nosso destino, sentimos que naquela batalha não houve vencidos pois se é o rio que impõe o seu ritmo ao viajante é este que se sente como se fizesse já parte daquela paisagem.
Foi essa sensação de pertença àquele lugar que, tenho a certeza, os arquitectos do museu do Côa (Tiago Pimentel e Camilo Rebelo) sentiram quando visitaram o lugar onde se construiria depois o edifício que actualmente se ergue não muito longe da foz do rio com o mesmo nome. A interferência humana na paisagem está ali bem presente mas é respeitadora da organização que a natureza impôs e, no seu exterior, é possível observá-la em toda a sua beleza.
E depois há o interior onde podemos aprender muito sobre a ocupação do vale ao longo da história; sobre as gravuras; ver materiais recolhidos e réplicas magníficas; perceber as fundamentações das várias teorias; conhecer os aspectos mais técnicos do trabalho desenvolvido até agora.
Por todas estas razões é um local a não perder antes ou depois da visita aos núcleos das gravuras propriamente ditas. E nem é preciso estar de férias. Um fim de semana é suficiente. Além disso é uma oportunidade para percebermos que valeu a pena preservar aquele património que, desde 1998, é de toda a humanidade.